sexta-feira, 20 de março de 2015

24 - CULTURA DOS AFECTOS * Apresentação



Lizete Abrahão * José-Augusto de Carvalho




Pois, menino, vem te chegando!

Nada melhor que este recanto…

São amigos um bom mate cevando,

Bebendo o doce prazer do canto.



Eu amo ver tanta gente amiga

Como um tecido forte colorido

transluzindo brilhos numa cantiga

que ora ouço neste grupo querido.



Te dizes assim inexperiente

De fazer versos e cantorias.

És um poeta, já se sente

Pela voz das tuas poesias.



Traze o canto de encantar sereias!

Vem sussurrar amor e carinho,

Sentir as musas nas tuas veias

Para delas iluminares o caminho.



Mereces bem mais, ó lindo vate

Que estas riscadas humildes linhas!

Sou gaúcha, nada jamais me abate!

Na coragem, fiz espadas e bainhas!






Menino fui de minha mãe, um dia…

Menino já não sou de mais ninguém!

O tempo, em mim, agora, é de invernia.

Meu tempo um outro tempo já não tem.



Se canto, o meu cantar já não encanta.

Morreram as manhãs primaveris.

Ficou em mim na voz que se levanta

Ainda um grito que já nada diz.



Sou débil nos saberes por carência.

Ninguém responde nunca aos meus porquês.

E sempre assim vivi nesta indigência…

Sem sim nem não, sobeja-me o talvez.



Nos braços das sereias tive fim,

Nos tempos em que soube merecer-me.

Um sonho de ilusão restou de mim,

Um fogo frio só a arrefecer-me.



Das terras de além-mar, por que me acenas

E tentas deslumbrar-me em utopia?

Agora é muito tarde, eu sou apenas

Saudade da fogueira – a cinza fria.


*
Ano de 2002

Sem comentários:

Enviar um comentário

Procuro ser uma pessoa honesta. Não será bem-vindo a este espaço quem divergir desta minha postura.