Na estrada de Damasco
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Da efeméride
Ano após ano, a data se cumpria
na translação soturna do deus Cronos.
Trazia num alforge de abandonos
a dor sem fim que só em mim doía.
Há dores singulares, sem partilha
possível nem conforto ou lenitivo.
São dores que estrangulam o cativo
num lento sufocar de gargantilha.
No peito já desfeito, o cadafalso
é o delírio obsceno da canalha…
É nada se a pureza se enxovalha,
é tudo quanto é reles, quanto é falso.
Porque perdura a tentação do abismo,
sempre a serpente ignóbil exorcismo?
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 12 de Agosto de 2020.