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terça-feira, 14 de agosto de 2018

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA!... * Invocando Orfeu



(...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA!…) 
Invocando Orfeu 




Entardece. 

Nos acordes suaves da aragem, 

vem a morna mensagem 

que o sol-pôr entretece. 



Nos teus olhos tão verdes de mar, 

deslumbrada, a magia da cor 

extinguiu-se esperando o pintor 

que a ousasse pintar. 



Se não houve talento bastante, 

a Pintura perdeu. 

Que este verbo, a sonhar-se de Orfeu, 

te resgate do olvido e te cante!... 



E na dádiva estreme de ser, 

que pulsou no teu peito e no meu, 

há o sonho que nunca morreu, 

porque o sonho não pode morrer… 





José-Augusto de Carvalho 
12 de Agosto de 2018. 
Alentejo * Portugal 

domingo, 6 de maio de 2018

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA! * O mesmo canto



(…e contigo eu morri nesse dia!) 


O mesmo canto 






Quis dar-te o sol de Julho, o sol do meio-dia! 

O mesmo sol que ardia 

naquele dia já antigo em que eu nasci. 

Eu sei que é utopia 

querer que seja teu o mesmo sol que ardia 

e que eu também perdi. 





Irrepetível foi --- fugaz deslumbramento, 

aquele meu momento, 

que quis que fosse teu, de natalício espanto. 

Que valha a comunhão 

de só um coração 

palpitar no teu peito e no meu o mesmo canto! 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 6 de Maio de 2018.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA! * O sonho que morreu...





Bailava nos teus lábios de medronho

a dádiva da lenda que tu eras!

Sem condições, rendi-me à vida-sonho

de todas as sonhadas primaveras…



No verde-mar-assombro dos teus olhos

cruzei os mares todos da utopia…

Domei correntes, contornei escolhos,

cheguei ao mais além da fantasia…



No ninho dos teus braços virginais,

fui lenha, na lareira, a crepitar,

num sacrifício de alma… e tudo ardeu!



Depois, rumaste aos longes siderais…

Sem ti… sem mim… e lúgubre a pairar,

ficou a dor do sonho que morreu.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 29 de Agosto de 2017
*
(In "...e contigo eu morri nesse dia!", em preparação)

terça-feira, 11 de abril de 2017

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Ansiedade





Nos meus olhos, um mar de lágrimas paradas. 

Um espelho perdido espera e desespera 

reflectir as manhãs de ti alvoroçadas 

no perfume e na cor --- idílio e primavera. 



Nos azuis deste céu infinito me perco. 

E eu não posso ou não sei decifrar os sinais. 

Que caminhos de ti? De todos que me acerco, 

uma estrela me diz não ser nestes que vais. 



É tão grande este Céu! É tão longe onde moras! 

E eu aqui, neste chão, à espera do fim. 

O relógio desfia o rosário das horas, 

decrescente a contar rumo ao zero de mim. 



Sinto sono ou torpor? Já nem sei definir… 

Finalmente, serão já horas de dormir? 







José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 20 de Março de 2017. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Lá vai o comboio, lá vai...




O pouca terra, pouca terra escuto.

Monótona e ruidosa ladainha

ampara as minhas lágrimas e o luto

que a meu lado caminha.



Meu luto que é por ti e que é por mim.

Sombria noite sob um sol de lume

que queima o meu queixume

nas aras dum herético festim.



No silêncio do cais,

espera a provação do nunca mais,

desnuda e sem bagagem.



Embarco… e o pouca terra, pouca terra

vai sussurrando enquanto me desterra…

Adeus, boa viagem!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 19 de Julho de 2016.


terça-feira, 19 de julho de 2016

30 -...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * A dádiva de ti





Quando te deste,

trazias a pureza da manhã orvalhada de sangue

e o espanto da descoberta nos teus olhos verdes de mar.



Um sabor silvestre de medronho sorria nos teus lábios

e eu sôfrego bebi até me embriagar.



Meus olhos mergulhei nos teus olhos verdes de mar

e adormeci no pélago profundo.

Quando voltei à tona,

os teus olhos verdes de mar sorriam para mim a dádiva de ti.



Recebeste o meu último olhar

recebeste o meu primeiro olhar

foi assim enquanto a vida quis



No dia em que partiste,

não me deixaste o teu último olhar verde de mar.



Quando quis despedir-me de ti,

teus olhos verdes de mar já não poderiam ver-me nunca mais.

Tu já estavas longe, muito longe,

muito longe de mim, para sempre.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 19 de Julho de 2016


terça-feira, 14 de junho de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * A miragem



Duze e José-Augusto * Lisboa, 13 de Setembro e 1961.




Vieste noite a dentro despertar

feitiços debruados de luar



Vestia a fria luz de claridade

sonâmbulas as ruas da cidade



Na boca a primavera ainda fria

sabores flamejantes já trazia



Na noite do silêncio que me vela

apenas entrevi difusa tela



Talvez uma miragem sem sentido

de um tempo há tanto já de mim perdido



Fechei os olhos tristes da lembrança

e quis dormir um sono de criança



Ai, que no teu regaço adormecesse

e a vida para sempre me esquecesse





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 13 de Junho de 2016.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA! * Teus olhos de mar





O feitiço contigo levaste!


Eram verdes teus olhos de mar!...

Meu amor, por que só me deixaste,

se contigo, nos céus que buscaste,

tanto e tanto eu queria voar!



Naufraguei nos teus olhos de mar

e bendisse a fatal perdição!

Meu perder foi em ti encontrar

não o mito do cais por achar

mas a graça do teu coração.



Meu amor, que chorando bendigo,

por que não me levaste contigo?





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 22 de Abril de 2016.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA! * Os últimos sinais




Nem um soluço resta do meu canto.

Só na saudade posso ver-te ainda

vestida de papoilas e de espanto,

no enleio virgem da manhã mais linda!



Na tua boca – uma romã aberta,

bailava uma promessa proibida!

E ainda esta saudade me desperta

a dádiva do céu que foste em vida.



Vieste no feitiço de um sorriso

e foste num adeus que nos matou.

Soubemos que existiu o paraíso

na graça que te trouxe e te levou.



Agora, só nos restam os sinais

chamando dos confins do nunca mais.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Fevereiro de 2016.

sábado, 23 de janeiro de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Contigo, meu amor!





No refúgio do meu coração,

a minh’alma rendida em oração.



Um altar eu ergui no meu peito.

Um altar perfumado de incenso.

Eu e tu, num perfeito

ser-estar dos sidéreos espaços suspenso.



Não há tempo, não há duração.

Só o meu coração,

pelo pranto lavado,

tão de leve palpita

que parece parado

nesta entrega contrita.



Viverás para sempre na minha oração.

Morrerás quando eu for,

na carícia da minha outonal viração,

ter contigo, meu amor!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 8 de Janeiro de 2016.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * O adeus




Sem desgosto, chegou o momento

da partida.

Sopra, trémulo, um vento

de carícia contida.



Sobre as águas, um véu de noivar,

transparente, suspira e desfaz-se

abraçado ao desejo que nasce

numa entrega de amar.



Um incêndio anuncia o sol pôr.

Logo, logo, virá o luar,

na pureza celeste, encantar

para sempre o milagre de nós e do amor.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Janeiro de 2016.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * A memória de nós






Tens razão, a saudade que mata

devagar

é o pranto a doer que desata

este nó que sufoca a garganta

e a chorar

canta.



Canta a cor do sol posto,

um incêndio inventando o rubor

do teu rosto

nos momentos de entrega e de amor.



Que momentos de ti para mim!

Que momentos de mim para ti!

Que princípio e que fim

nós quisemos e fomos aqui!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 1 de Janeiro de 2016.

domingo, 29 de novembro de 2015

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Sortilégio





Nas asas das borboletas

há matizes deslumbrados

dos teus olhos evadidos...




Nas tuas mãos inquietas

há gestos adivinhados

de bailados proibidos...




Quando o rouxinol poeta

deixa entrever a centelha

do seu talento encantado




na tua boca vermelha 

uma promessa secreta

é um grito sufocado...



José-Augusto de Carvalho
Lisboa 1969

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Musa






De espanto vestida, 

vestida de espanto, 

tu és a medida

dos versos que eu canto!




Em sonho esculpida,

celeste o teu manto, 

coroas a vida

de êxtases de encanto!




No tempo perjuro

de incerteza e dor

que jaz no moturo




tu és chama e cor

abrindo ao futuro

o regaço em flor!







José-Augusto de Carvalho
Lisboa,

terça-feira, 24 de novembro de 2015

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Noche y dia






Los dos, al contemplarnos noche y dia,

ganamos la mirada iluminada!

A nuestro alrededor, la Poesía

es un sueño de una vida enamorada!



De flores son las dulces carreteras.

Sus pétalos, alfombras de desvelo.

Sin alas y sin largas escaleras,

llegamos a lo lejos, hasta el cielo! 



Acá, la Vida mira nuestro sueño

y grita, en su dolor, una censura 

que, vieja como há sido el triste leño, 

en lágrimas de sangre duele oscura: 



No puede nunca haber verdad y vuelo 

sin alas echas tierra rumbo al cielo! 



José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 17 de Agosto de 2006.

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Tu





Não sei que existe em ti que me embriaga
e o tempo não corrói nem adultera...
Talvez a eternidade de uma fraga,
perfume de perene primavera...

Os anos passam sobre nós correndo,
até que chegue a barca de Caronte...
e és sempre mais um longe que desvendo,
mantendo-te infindável horizonte!

Querida, não sagrada, te contemplo
por teres de mulher a dimensaõ
que não te podem dar exíguo templo
e incensos, ritos, preces, devoção.

Tu és grande de mais, mulher e viva,
p’ra seres de qualquer altar cativa!




José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 1966

sábado, 3 de outubro de 2015

30 - ...E CONTIGO MORRI NESSE DIA * O meu jardim




Na construção do meu jardim gastei a vida toda.

Sob um caramanchão de versos e verdores,

um dia, celebrei o azul da minha boda.



No céu, ardia o sol. As uvas, já maduras,

sorriam o delíquio ardente dos sabores

em taças de cristal ornadas de nervuras.



Não quis no meu jardim o mito da maçã.

De carne e sangue, quis meu corpo a palpitar

rubores de romã no orvalho da manhã.



E assim fiquei rendido ao êxtase de ser

um fio de cristal ansiando pelo mar,

no altar deste meu chão de angústias, a correr…





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 4 de Outubro de 2015.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Apelo de alma





Nas bermas dos caminhos, os anseios

mesclados de silvestres florescências.

Suspensos de subtis inconfidências,

são madrigais de sonho os seus gorjeios.



Perfilam-se horizontes e manhãs

rasgando mais caminhos na distância.

Policromias raras de fragrância

inventam tons vermelho de romãs.



Anseios resistindo à finitude

no imenso não dum coração aflito 

aos outonais acordes de alaúde.



Oh alma da minh’alma, oh infinito,

que possas tu em mim o que eu não pude

e leva-me nas asas do teu grito.






José-Augusto de Carvalho
Alentejo, Portugal, 23/9/2015.

domingo, 13 de setembro de 2015

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Meu amor!





Amor, vem adoçar o fel da minha insónia

com raios de luar e ritmos feiticeiros!

De novo vem florir ardores nos canteiros

dos nossos imortais jardins de babilónia.



De novo vem molhar os pés no nosso Odiana

e deslumbrar o azul celeste de Alcoutim.

Que amor e sedução derramem sobre mim

teus olhos verde-mar em rara filigrana.



Que o teu olhar me diga agora e sempre: aqui

estou, enquanto tempo houver, bem junto a ti,

até que nos dilua o caos na mesma massa.



Espera, meu amor, por mim, porque estou indo.

Aqui, aí, no caos... o nosso sonho lindo

será, no tempo vário, o tempo que não passa.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 13 de Setembro de 2015.




quarta-feira, 26 de agosto de 2015

30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * O sinal






O sinal implacável chegou. 

Quando a luz se apagou, 

o regresso do caos percebi. 

Apesar do negrume, entrevi 

a corrente do rio, ausente, a deslizar 

rumo ao mar. 

O silêncio absoluto 

e sem paz das alturas, 

às escuras, 

parecia vestido de luto 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 26 de Agosto de 2015.