sexta-feira, 25 de setembro de 2020

03 - LIVRO ESTA LIRA DE MIM!... * Catarse (8) - Determinação


Determinação


 

Quis sempre ser o lado

da cor e do perfume,

 amar e ser amado, 

ser acha e ser calor do mesmo lume.


Eu, hoje, quero ser o mesmo de ontem:

olhar e perceber.

Os outros não me cansem nem me apontem

caminhos que eu recuso percorrer.

Os tempos do meu tempo!... O tempo ousado!

O tempo de lutar, sofrer, morrer

será sempre o meu lado.


José-Augusto de Carvalho

Alentejo, Julho de 2002

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

10 - CANTO REVELADO * Apelo

 CANTO REVELADO


Apelo



 

Amor, eu dei-te tudo quanto tinha:

o céu azul, o sol do mês de Agosto,

em tempo de sazão dourando a vinha,

silvestre o néctar no dulçor do mosto...

 

Amor, eu dei-te o longe das planuras

aonde Terra e Céu se fundem nus,

num êxtase de sonho e de tonturas

dulcificadas --- cósmico de luz...

 

Amor, eu dei-te o sol na tremulina

que num delíquio lânguido se entrega,

buscando em teu regaço de menina

o bálsamo que sara e me sossega

 

a chaga há tanto aberta no meu peito

exangue e roxo --- já quase desfeito.


 

José-Augusto de Carvalho
Portimão, 14 Setembro de de 2020.


 

domingo, 13 de setembro de 2020

03 - LIVRO ESTA LIRA DE MIM!... * Recriminação




Efémero me sei, perene é este sonho

que do  Princípio herdei de plena comunhão.
Assumo contrafeito a minha condição
de efémero --- de mais, na Vida, não disponho.

Do sonho, fui até ao sem-limite abrupto.
E pago para ver uma qualquer parada!
Enquanto Vida houver, uma qualquer estrada 
apenas a limita o longe do absoluto.

Ganhei à Terra quando ousei plantar estrelas.
Ganhei aos mares quando ousei o fim do Mundo.
Ganhei à Vida quando ousei na Vida o sonho.

Quem me roubou um dia a safra das estrelas?
Quem me inventou este paul onde me afundo?
E quem me soterrou em vida a flor do sonho? 


José-Augusto de Carvalho

Portimão, Setembro de 2020