quinta-feira, 8 de maio de 2014

03 - ESTA LIRA DE MIM!... * A transcendência do verbo





Quando o verbo proclama
a representação,
cega-nos o clarão
de iridescente chama…

É, noutra dimensão,
o anúncio dos sinais
transcendentais
da humana condição…

É o tempo interdito
onde o impossível
recusa o perecível
das aras do rito.


José-Augusto de Carvalho
29 de Abril de 2014.
Viana*Évora*Portugal

quarta-feira, 7 de maio de 2014

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Al Andalus




Na nostalgia, sangra a dívida da história.

Dos campos do Alentejo aos campos de Granada,

ginetes de luar, correndo à desfilada,

esventram o silêncio exausto da memória.



Que fonte de água pura ensaia a melopeia

em versos de cristal e lendas do Levante?

Ai, onde, Al Andalus, o aedo que te cante,

em noites de ternura e véus de lua-cheia?



As hostes infernais mataram o poeta

e a noite recusou ensanguentar o dia

que havia de nascer e nunca mais nasceu...



A mácula de sangue os campos atapeta.

Não mais, pela manhã, cantou a cotovia.

De luto a Poesia, a lira emudeceu.



José-Augusto de Carvalho
Viana*Évora*Portugal

terça-feira, 6 de maio de 2014

03 - ESTA LIRA DE MIM!... * O dia






Empalidece já o setestrelo,

abandonado, num delíquio casto.

Esvai-se num apelo,

sem queixume nem rasto.



A cotovia ensaia os seus trinados,

sorrindo madrigais de amanhecer,

azuis enamorados

de anseios por arder.



Os frescos arrebois primaveris

afagam a verdade da nudez

em transes juvenis

de afogueada avidez.



No incendiado azul do meio-dia,

a vida em seu pulsar se determina

quando beleza cria

com tons de tremulina.



E eu, contrafeito, fico-me, hesitante…

Que mais terá a vida de ensinar-me,

quando não me é bastante

este grito de alarme?





José-Augusto de Carvalho
5 de Maio de 2014.
Viana * Évora * Portugal