quarta-feira, 29 de novembro de 2017

10 - CANTO REVELADO * A perpétua construção


(CANTO REVELADO)

A perpétua construção 


Dórdio Gomes, Pintor alentejano, com a devida vénia




Nem pratos de ilusões ou de lentilhas…

Nem taças do elixir dos desvarios…

Só quero do pão asmo das partilhas,

em sopas, no gaspacho, p’los estios.



O vinho e o pão devidos ao sustento,

para que o meu labor de cada dia

não sofra reduções de rendimento

nem mal augure os tempos de invernia.



O vinho e o pão do ajuste equitativo

que me garante a força do meu braço

e a minha condição que assumo e vivo

no que recuso e no que inteiro faço.



Que eu saiba ser plural na dimensão

multímoda e em perpétua construção.





José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 29 de Novembro de 2017.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

03 - ESTA LIRA DE MIM!... * Em louvor do movimento



Em louvor do movimento



Tela de Siqueiros, com a devida vénia





Não trago no bornal renúncias e atropelos.

Não trago no cantil as sedes saciadas.

Caminho com a lama até aos tornozelos.

Nos campos ermos, domo angústias, rasgo estradas.



Saúda a cotovia os arrebois do dia.

O seu cantar feliz desperta os meus sentidos.

Levanto-me da cama ao som da cantoria.

Meus passos não serão incertos nem perdidos.



Difícil é andar ao frio que enregela

por mais que seja belo o manto de brancura,

mas mais difícil é tomar pincéis e tela

e ser a dimensão de nós ganhando altura.



Difícil é andar ao vento que flagela,

(o látego zurzindo injúrias e inclemências), 

mas mais difícil é domar o leme e a vela

da nau que aporte ao fim de todas as urgências.



Importa caminhar, a vida é movimento.

É mero pormenor, chegar ou não ao fim.

Os passos que eu não der, jamais por desalento,

mais tarde, outros darão, por eles e por mim.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 16 de Novembro de 2017.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

13-NA PALAVRA É QUE VOU..., * Todos somos hispanos


NA PALAVRA É QUE VOU..., 
.



Os nacionalismos em Espanha são uma questão mal resolvida desde o princípio. Um após outro, os nacionalismos foram mal absorvidos pelo Reino de Leão, depois pelo Reino de Castela e Leão e finalmente pela união do Reino de Castela e Leão com o Reino de Aragão. Desta última união resultou a Espanha que conhecemos hoje, união ocorrida na segunda metade do século XV.


O centralismo de Madrid foi e continua sendo uma tentativa desesperada de lutar contra a identidade dos povos que integram o todo da Espanha.

A nossa Poetisa Natália Correia recordou certa vez a realidade da Península Ibérica: “Todos somos hispanos”. Ou iberos, digo eu. Mas todos sermos hispanos ou iberos é diferente de sermos todos espanhóis ou de todos reverenciarmos a identidade leonesa-castelhana.

A Catalunha integrava o antigo reino de Aragão.

A legitimidade reconhecida hoje a todos os povos de escolherem o seu destino colide frontalmente com a rigidez arcaica do Poder Espanhol. Um povo não está contra outro povo quando reclama o legítimo direito de escolher o seu destino sem tutelas.

Madrid está numa encruzilhada: ou aceita os legítimos anseios dos outros nacionalismos hispanos ou esmaga aquela legitimidade. E aqui chegados, a questão é outra: o confronto entre a força da razão e a razão da força.

A Espanha poderá ser uma Federação de Estados Independentes, voluntária e fraternalmente juntos numa caminhada comum.

Eu assumo a minha identidade de português e de hispano sem contradições nem complexos.

Cordialmente,

José-Augusto de Carvalho.
Alentejo, 3 de Novembro de 2017.