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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

03 - LIVRO ESTA LIRA DE MIM * Caminheiro



O MEU RIMANCEIRO 


Caminheiro 



Nesta minha condição
de estar-ser em movimento,
no bornal da solidão
carrego, por alimento,
bagas rubras de medronho,
tontas de silvestre sonho.

Passam por mim, prazenteiros,
os eternos aprendizes,
sonhando-se feiticeiros
de perfumes e matizes,
atapetando as estradas
de falácias e outros nadas.

Condescendo, num sorriso,
responder-lhes aos acenos.
É linear o meu juízo:
desencontros de somenos
são hiatos na paisagem
de qualquer tempo em viagem.



José-Augusto de Carvalho
3 de Junho de 2009.
Alentejo * Portugal

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

11 - LIVRO O MEU RIMANCEIRO * A falsa questão



O MEU RIMANCEIRO
.
(QUE VIVA O CORDEL!)

*
A falsa questão




Temer ou não temer --- eis a questão!

Sabia o velho Esopo, porque lia

a Natureza-Mãe com atenção,

aquela antiga história da guria

que fez da imprevidência condição

na hora em que aceitou por companhia

o astuto escorpião

naquela derradeira travessia.


.


E não houve depois para contar…

Temer ou não temer --- falsa questão!

O certo é não errar.

Quem erra por tolice ou distracção,

tem sempre uma factura pra pagar.

Quer se queira, quer não,

jamais a sua condição irá mudar

o astuto escorpião.




*


José-Augusto de Carvalho
5 de Dezembro de 2018.
Alentejo*Portugal

sábado, 17 de novembro de 2018

11 - LIVRO O MEU RIMANCEIRO * Ali Baba



O MEU RIMANCEIRO
.
(QUE VIVA O CORDEL!)

*
ALI BABA




Ali Baba, a lenda que ficou
do chefe dos ladrões – eram quarenta.
D’As mil e uma noites transitou
a lenda para a vida e tanto bem medrou
que por feitiço dia a dia aumenta.

O roubo ganhou formas e matizes
e tanto medra a solo e medra em coro!…
As vítimas se queixam: que juízes,
perante as nossas roxas cicatrizes,
acabam com tamanho desaforo?

Ecoam pelas ruas, pelas praças,
protestos e lamúrias, mas em vão.
São de raiz os males e as trapaças.
Com panos quentes, faças o que faças,
não mudas nunca a sua condição.

Arranca o que é daninho, o que não presta,
permite que germine outra semente,
e colherás suado mas em festa
o pão e o vinho, as flores da giesta,
cumprido como vida e como gente…


José-Augusto de Carvalho
17 de Novembro de 2018.
Alentejo * Portugal

sexta-feira, 13 de julho de 2018

11 - LIVRO O MEU RIMANCEIRO * Exortação



O MEU RIMANCEIRO 


Exortação 




Há um tempo cumprido. 

Há um tempo a cumprir. 

Um minuto perdido 

é andar e não ir. 


A boca que consente 

o grito sufocado 

decide no presente 

um futuro adiado. 


A inércia não existe. 

Perpétuo, o movimento 

definido persiste 

ser acção, ser alento. 


Quem perder a coragem, 

sujeito à rendição, 

não irá de viagem 

dobrar o Cabo Não... 




José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 13 de Maio de 1996.
Corrigido, 13 de Julho de 2018.
Alentejo - Portugal

domingo, 13 de maio de 2018

11 - LIVRO O MEU RIMANCEIRO * A estrada



O MEU RIMANCEIRO 


A estrada… 





Quando se nasce, inventa-se uma estrada. 

É uma estrada aberta, passo a passo, 

mesclada de ansiedade e de cansaço, 

que dura enquanto dura a caminhada. 



Das flores e gorjeios infantis 

à moça idade idílica de enleios 

que frustrações, que angústias, que receios 

o sol maculam dum devir feliz? 



Mais tarde, o céu se nubla e o vento agreste 

ensaia a sua dança de procelas. 

As portas rangem, rangem as janelas, 

de fumo negro a chaminé se veste. 



Dezembro traz no manto saturnal 

as prendas e as oníricas miragens. 

O mito novo traz, noutras roupagens, 

a derradeira prenda… a de natal… 






José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 12 de Maio de 2018.