domingo, 20 de outubro de 2019

13 - NA PALAVRA É QUE VOU... * Falando de dores



NA PALAVRA É QUE VOU… 

Falando de dores 







Hoje, tentemos conjugar o verbo doer…

Qual será o significado do lamento: estou com uma dor de dentes difícil de suportar?

Afinal, uma dor de dentes é um problema que o Serviço Nacional de Saúde (mal)trata e de que a odontologia privada se ocupa se ou quando a disponibilidade do meu salário mo permite. Assim, tal qual – quem quer saúde, paga-a!

Evidentemente que a dor de dentes é um exemplo entre todas as outras dores que nos afligem ou nos podem afligir enquanto caminhamos nesta viagem finita em que vamos…

… vamos, muitos cantando e rindo;

… vamos, muitos encarando a viagem como uma via profana (via crucis reduzida à dízima);

… vamos, muitos sem darem por nada, numa acomodação mísera e mesquinha (e aqui te evoco, meu amado Luís, mais uma vez);

… vamos, outros ainda, mas poucos, muito poucos, esbracejando ou esbravejando;

--- vamos, uns tantos proclamando serem do contra porque é bonito ser contestatário ou porque lhes convém inocuamente lavarem a consciência…

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Vejamos:

-- eu sei que pago os meus Impostos;

-- eu sei que sou, desde o velho Adão, obra do Criador, logo eu e todos os demais pertencemos à única Irmandade --- a Irmandade Humana;

-- eu sei que a Mãe Eva e o Pai Adão mal se comportaram cometendo o pecado da desobediência e, por isso mesmo, foram expulsos do Paraíso, passando eles depois as passas do Algarve e outras mais… e que no-las deixaram de herança até hoje, numa penitência de longevidade que me assombra; mas tudo bem, a misericórdia do Criador é infinita;

-- eu sei que a nossa Leonor, filha do Duque de Beja, depois rainha, após o casamento com o Príncipe Perfeito, o nosso Dom João II, Rei de Portugal de perene memória apesar das aleivosias de muitos, criou as Misericórdias, obra modesta e, avento eu, paroquialmente inspirada na misericórdia infinita;

-- eu sei que os Direitos Humanos dizem defender-me;

-- eu conheço a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948);

-- eu conheço os direitos constitucionais do cidadão português;

-- eu suponho saber ler, mas quanto mais leio, mais me parece que vivo um equívoco:

-- eu suponho saber escrever (cartas à família e pouco mais…), mas quanto mais escrevo menos leitores tenho; mas entendo isto: o silêncio mata, logo eu sei que me estão matando… E aqui eu sorrio divertido: não percam tempo querendo matar-me!… a Senhora Dona Morte (olá, Florbela, minha amada) não vai cometer a maldade de se esquecer de mim…

Até sempre!

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José-Augusto de Carvalho
20 de Outubro de 2019.
Alentejo * Portugal

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

13 - NA PALAVRA É QUE VOU... * A Direita e a Esquerda



NA PALAVRA É QUE VOU...
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A Direita e a Esquerda


Diz quem sabe dessas coisas da História que as tais Direita e Esquerda surgiram com a Revolução Francesa. A tal Grande Revolução Burguesa que, em 1789, em França, apeou a Realeza, a Nobreza e a Igreja Imperial de Constantino. Foi nessa data e com o decisivo empurrão do povo ignorante e faminto que a Burguesia tomou o Poder.
Os Girondinos eram a Direita, os direitícias; os Jacobinos eram a Esquerda, os esquerdícias.
O Poder da Burguesia trouxe consigo a divisa Liberdade * Igualdade * Fraternidade. Para eles, burgueses, apenas para eles, é claro.
A Burguesia trouxe o Capitalismo, mais direitícia, mais esquerdícia, sempre Capitalismo.
As amarguras do povo mantiveram-se. Apeados os Senhores das Linhagens, subiam ao palanque os Senhores do Lucro. Enfim, como diz o rifão: «Tudo como dantes, Quartel-General em Abrantes»! Há quem prefira estoutra sentença: «A m... é a mesma, as moscas é que são outras».
Evidentemente que o Poder da Burguesia foi um passo qualitativo no decurso da História dos Homens. Foi e já não é há muito tempo.
Com a chamada Idade Industrial, ficou muito clara a importância da força de trabalho, isto é, do povo. E com esta peça nova no xadrez, o povo como força de trabalho, surgiram os inevitáveis conflitos entre patrões e trabalhadores assalariados e as ideias destes conducentes a um dia se emanciparem do Poder Burguês.
Enquanto isto, os direitícias e os esquerdícias iam-se revezando na condução dos destinos das gentes. Ora governavam uns, ora governavam outros, ora, num lindo par, governavam juntos. E tão bem ficavam no par, que o povo, sempre criativo, inventou esta máxima: «São tão lindos, tão lindos, que Deus os fez e Deus os juntou!» 
E com a criação deste par, os direitícias e os esquerdícias «inventaram» o Centro. Foi aí que este pariu os centrícias. 
Depois, decidiram criar outras combinações, mas sem jamais se desviarem um milímetro da sua matriz: Poder da Burguesia. Aliás, teremos de convir que nada de diferente seria de esperar. Se deixassem de ser o que são, perderiam a sua identidade. E isso é o que eles não querem. Pudera!
De entre outras, uma interrogação o povo se coloca: Por que será que os que se dizem do povo e eleitos pelo povo estão reclamando para si a designação de esquerdícias? Por que sentem a necessidade de procurar no Poder da Burguesia uma palavra que os defina? A palavra que define o Poder do Povo não lhes agrada? Pois eu proclamo ser um democrata, porque defendo a Democracia, a tal expressão grega que significa Poder do Povo ou Poder Popular.
Direitícias, Esquerdícias, Centrícias e por aí adiante são as negaças de que se serve a Burguesia para caçar os distraídos...


José-Augusto de Carvalho
1-11-2006.
Alentejo * Portugal