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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

02 -TEMPO DE SORTILÉGIO * Tanto me tardas!...


TEMPO DE SORTILÉGIO 


Tanto me tardas!... 





Tanto me tardas --- e tão longe moras! 

Olho o relógio --- lentos, os ponteiros… 

Mais me parecem séculos as horas! 



Na noite dos silêncios carcereiros, 

uivam os cães a dor da solidão, 

alheios a relógios e ponteiros… 



E tu me tardas tanto na ilusão 

de nos sonharmos vivos outra vez, 

aquém e além da nossa perdição… 



Não tardes mais --- será que tu não vês, 

dos longes onde moras, 

que os séculos das horas 

nos perdem… e de vez? 





José-Augusto de Carvalho 
25 de Dezembro de 2018. 
Alentejo * Portugal

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * A falaz rotação




Há momentos na Vida

em que todos os homens são reis.



Não sei quem o afirmou,

mas sei bem que falando de reis

falarei, com certeza, de súbditos.

Eu prefiro a res publica.

Velha Grécia das ágoras,

Velha Grécia de Demos e kratos

vem valer-nos nesta hora à deriva!



Persistimos reféns da caverna.

É de sombras o nosso alimento.

Sombras vãs, fugidias, incertas,

num desfile de máscaras

deste nosso ancestral carnaval.



E nós vamos na marcha bailada,

sem cuidados,

inocentes meninos

inocentes meninas

de dançares de roda

em jardins ou recreios de escola.



Ébrios todos ou não(?)

nesta roda que gira

ou que finge que gira

imitamos o velho pião

na falaz rotação…







José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 21 de Setembro de 2016

sábado, 3 de setembro de 2016

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Meditação




A minha casa está de mal comigo

ou eu talvez estou de mal com ela.

Se falo não escuta quanto digo,

se calo, alheia, nunca me interpela.



E, juntos, eu nem sei qual mais se ignora.

Vivemos um viver sem importância.

O tempo que outros medem hora a hora

é para nós atemporal errância.



Fizemos do silêncio a nossa paz.

A podre paz do fim que se assumiu.

Que importa o que se faz ou não se faz?



Lá fora, a vida segue de jornada,

nas malhas do que toda a gente viu:

que andar só por andar vai dar em nada.







José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 4 de Setembro de 2016.

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Do vazio (1)







As palavras são vazias

se lhes falta o conteúdo

do rigor e do sentido.



No frio das noites frias,

tanto sempre, tanto tudo

é o nada definido.



Toda a promessa presume

o resgate de uma senda

num momento de aflição.



Só quando há dor há queixume!

Só quando há erro há emenda!

Que noite de provação!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2 de Julho de 2002.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * No mito de Sagres



(Do baú do esquecimento)

No mito de Sagres




Do sonho menino,

a raiz

que me quis

um destino.



Fui além de mim,

fui até ao fim

p’ra saber quem era.

Nesta letargia

que me regenera,

o sonho porfia.



Que o sonho desponte

em novo horizonte

e chame por mim.!

Irei caravela

nas mãos da procela

sempre até ao fim!



E depois do fim,

que rasguem as vendas

do ignaro festim.

E vivam as lendas

do sonho carmim

rasgando outras sendas

mais além de mim.







José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 20 de Junho de 1973.
Revisto em 3 de Agosto de 2016.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Escuta-me, meu amor!





Não tenho para dar-te opalas e rubis

nem horas de lazer em barcos de recreio.

Não tenho para ti palácios em Paris

nem te prometo em Punta Arenas veraneio.



Não tenho nem suor nem sangue nem troféus

de saques e festins de lucros e de esbulhos.

Não tenho noite adentro acesos lumaréus

afugentando a treva, as sombras e os barulhos.



Só tenho o campo aberto ao sol do meio-dia

e as noites de luar ornadas de marfim

ouvindo os rouxinóis cantar a melodia

que trouxe no princípio a voz dum querubim.



É pouco o que te dou --- a dádiva do dia

e a noite para amar nos braços da Poesia?





José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 19 de Maio de 2016.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Perplexidade




Para Maria José Maurício



Nas veias do teu corpo de mulher

circula vivo o sangue transtagano!

Rubor de cravo em livre peito humano,

brancura de silvestre malmequer!



O pátrio Sado rende-se a teus pés

e sonha para ti azul e mar!

O mar que vem, num terno sussurrar,

trazer-te a melodia das marés…



Celeste, como um véu, o puro azul

os teus cabelos cobre com ternura.

Das ancestrais lonjuras da tontura 

chama por ti a sedução do Sul.



E ficas sem saber qual mais requer

sonhar o teu destino de Mulher!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 13 de Abril de 2016.




sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO - A menina




Nos olhos trazes arrebois de amanhecer.

E nos cabelos o perfume ainda intenso

do leito cálido do teu adormecer.



Escondes tímida o rubor dos teus anseios

sob o garrido lenço

que te disfarça, bem cruzado, até os seios.



Na dança bela dos teus passos me desvendas

o dulçor das romãs

que se baloiçam na memória de idas lendas.



E os olhos cerro na saudade do que tive,

raiares de manhãs

de um tempo morto mas que em mim pra sempre vive!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Janeiro de 2016.

domingo, 21 de junho de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Na esteira de Holderlin







































(Primeira versão)


1

Quando eu canto a beleza da ternura

dum maternal sorriso...

Quando eu canto o perfume da manhã

nas pétalas da flor...

Quando eu canto a suave melodia

do arroio cristalino...

Quando eu canto

o sol que se deslumbra nos meus olhos...

Quando eu canto a chorar

a prisão já perdida dos teus braços...

em mim superlativo a inocência.



2

Quando eu recuso

as trapaças melífluas dos cambistas...

Quando eu contesto

as negaças fatais dos vendilhões...

Quando eu empunho

a força da razão contra a razão da força...

Quando eu não cedo

às oferendas áureas da traição...

Quando eu prefiro

tombar à ignomínia de negar-me...

eu assumo o mais perigoso bem,

o do verbo dizendo-me quem sou.



3

Rasguei muitas estradas

e em todas procurei o rumo certo...

Aos ombros carreguei

os fados por aspérrimas ladeiras...

Olhando o céu,

só astros vi no longe inacessível...

Nos ecos que supus

chegavam-me os clamores doutros eus...

e ouvindo os outros

eu percebi que não estava só...



4

A verdade de nós

é que nem tudo passa nesta vida...

A verdade de nós

é que da morte irrompe sempre a vida...

A verdade de nós é a raiz

do alento novo em cada primavera...

A verdade de nós

é que na vida efémera que somos

o grito dos poetas permanece.



5

Na angústia do passar

o verbo reverdece todas as manhãs

no esplendor da Poesia.

*

José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 21 de Junho de 2015.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Interrogação





Dize-me, petiz,

em segredo ouvido,

porque te sorris

assim divertido.




E que rouxinol

tens tu na garganta

que as noites encanta

e inunda de sol?




Que certeza mora

nos teus olhos puros

de luz madrugada?




Ou tu és a aurora

rasgando futuros

na noite fechada?







José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 29 de Maio de 1987.

sábado, 11 de abril de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * A dúvida






Acontece viver...

Acontece...

Que havia antes de ser?

E que haverá após?

Esta dúvida que permanece

tão distante e tão dentro de nós!





José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 12 de Setembro de 2001.

sexta-feira, 20 de março de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Delírio



Delírio quando penso em ti e te contemplo!

Do teu sorriso lindo abrindo-se em ternura…

Vertigem que enlouquece e longe me tortura…

Mulher-menina e luz do meu profano templo.



Delírio quando a brisa amena acaricia

as rugas do meu rosto exausto de cansaço…

E sinto nessa brisa o trémulo compasso

do teu-meu coração em branda melodia!



Deliro quando escuto o som da tua voz

cantando no meu peito um hino de saudade,

trazendo-me de longe um tempo sem idade

que recusou morrer no mar com meus avós!



Deliro quando sinto o cheiro a maresia!

Regresso às velhas naus dos tempos de Cabral!

E parto, peregrino! Adeus, meu Portugal!

Em busca de mim mesmo eu vou nesta ousadia!



Deliro e quero, assim, perder-me no delírio!

A nossa vida teve a perda por destino!

A perda deste chão… porque outro descortino!

Se for martírio, oh pátria, é só mais um delírio!...





José-Augusto de Carvalho
Maio (ou Junho) de 2002.
Viana*Évora*Portugal

domingo, 15 de março de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Sonho






Sonho

e tudo se transforma.

Se disponho

as coisas como são,

vejo a vulgaridade da norma,

sem imaginação.



Sonho

e tudo se transforma.

Quando as coisas sem nexo disponho,

ganha forma

o novo que desponta,

vejo que tudo muda,

que tudo é novo e afronta.

E o Velho do Restelo

esquece o pesadelo

quando o ser se desnuda.



Sonho

o grito rubro das alvoradas

e vejo desfraldadas

bandeiras de medronho,

transparentes, de tule,

cantando em gargalhadas 

uma manhã azul.



Sonho e sei-me perplexo

porque o sem nexo tem

exactamente o nexo

que do caduco vem.





José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 2 de Dezembro de 1987.



sábado, 28 de fevereiro de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Para ti, minha musa de ninguém!





Eu vou amar-te assim, perdido na lonjura,

ficando à tua espera,

sabendo que não vens, num sonho de loucura,

dar vida à minha derradeira primavera…



Serei o camponês vergado à condição

de sempre olhar o céu e nunca ter a graça

de ver-te projectada em luz sobre a desgraça

de não poder colher-te em astro do meu chão.



Que assombro de poeta em mim só faz alarde

de anseios de ilusão, sem asas de infinito?

O verbo feito carne, em transe, angústia e mito,

o tempo me negou. P’ra mim é sempre tarde!



E deslumbrado, aqui, eu sonho a minha estrela!

E sofro por não ter podido merecê-la.





José-Augusto de Carvalho
16 de Março de 2002.
Viana*Évora*Portugal

terça-feira, 15 de julho de 2014

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Paisagem

Rio Grande do Sul*Brasil
Mulher gaúcha (Prenda)
Foto Internet, com a devida vénia




Dançando, rodopias na leveza 
dos dias enlaçados na ternura, 
dourando de alegrias a candura, 
ganhando em melodias a beleza. 


Doçuras encantadas nos teus olhos, 
caiadas as brancuras dos casais. 
São duras as arestas dos abrolhos, 
agruras decantadas por jograis. 


Murmuram as correntes dos riachos 
frescura dos teus dentes brancos, brancos... 
As uvas amaduram... cheira a mosto!... 


As chuvas são de pérolas nos cachos... 
Embriaga-se o vinho nos estancos... 
E a vida ressumando no teu rosto! 




José-Augusto de Carvalho
5 de Novembro de 2002
Porto Alegre*Rio Grande do Sul*Brasil

quarta-feira, 7 de maio de 2014

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Al Andalus




Na nostalgia, sangra a dívida da história.

Dos campos do Alentejo aos campos de Granada,

ginetes de luar, correndo à desfilada,

esventram o silêncio exausto da memória.



Que fonte de água pura ensaia a melopeia

em versos de cristal e lendas do Levante?

Ai, onde, Al Andalus, o aedo que te cante,

em noites de ternura e véus de lua-cheia?



As hostes infernais mataram o poeta

e a noite recusou ensanguentar o dia

que havia de nascer e nunca mais nasceu...



A mácula de sangue os campos atapeta.

Não mais, pela manhã, cantou a cotovia.

De luto a Poesia, a lira emudeceu.



José-Augusto de Carvalho
Viana*Évora*Portugal

sábado, 28 de setembro de 2013

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Romagem




Foto Internet, com a devida vénia.



De tribo em tribo, vou, humilde peregrino.
E tudo em derredor são sombras e armadilhas.
Um bobo impertinente exibe o desatino,
a turba exulta e faz do reles maravilhas...


Medíocre insecto arenga, em sórdido arreganho.
Casaca a condizer, as asas coloridas.
Asneiras que lhe inveja o néscio em seu tamanho.
E aqui não há ninguém que venda insecticidas!...


Humilde sou e humilde eu quero assim manter-me.
Traído o seu intento, o verbo foi em vão.
Não é inteligente equiparar-me ao verme.
Humilde, sim, serei, mas sem humilhação.


Paguei o preço até ao último centavo.
Ingénuo, e em dor, senti do fel o amargo travo...



José-Augusto de Carvalho
8 de Junho de 1996.
Viana * Évora * Portugal

02- TEMPO DE SORTILÉGIO * Encruzilhadas


Foto Internet, com a devida vénia.



De palavras não careço

nem há palavras precisas;

apenas o teu olhar

sempre me ilumina e guia.


Afronto as encruzilhadas

indefinindo os caminhos.

Despetalo rosas rubras

e o caminho cheira a sangue.


Em cada nuvem cinzenta 

que presagia procela,

adivinho as tuas lágrimas

derramando-se na espera.


Com o meu bordão, amparo

o trôpego caminhar 

dos meus passos que recusam

descansar ou desistir.



José-Augusto de Carvalho
1 de Junho de 2011.
Viana*Évora*Portugal

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Ansiedade


Foto Internet, coma devida vénia.




O baloiço balança
para trás, para a frente,
em viagem contente
da contente criança.


Devagar, mais depressa,
delirando, o petiz
tem pressa, muita pressa
de sentir-se feliz.


Quer ter asas, voar,
subir ao céu, subir
o quanto lhe permite


o doido baloiçar...
Sem medo de cair,
quer ganhar o limite!


José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 5 de Setembro de 1996.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

02 - Tempo de Sortilégio * Interrogação

Foto Internet, com a devida vénia


Dize-me, petiz,
em segredo ouvido,
por que te sorris
assim divertido?

E que rouxinol
tens tu na garganta,
que as noites encanta
e inunda de sol?

Que certeza mora
nos teus olhos puros
de luz madrugada?

Ou tu és a aurora
rasgando futuros
na noite fechada?


José-Augusto de Carvalho
In Vivo e desnudo
Editorial Escritor

Lisboa,1996