Mostrar mensagens com a etiqueta 09-livro cantaremos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 09-livro cantaremos. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 3 de junho de 2022

09 - Livro CANTAREMOS * Revelação




Tu foste o princípio de luz.

De perfume e cor, num sagrado altar.

És a minha cruz,

onde vai rezar

o meu coração

fervorosa oração.

Sedutora flor do Jardim,

mulher ou poema, sonho encantador,

se em verdade existes e humana me tentas,

deixa-me pecar, amor!



José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 1 e 2 de Julho de 2021.

09 - Livro CANTAREMOS * Menina e moça



 


Já morreram de desgosto as Primaveras.

Na corrente que é de pranto, do Xarrama,

foi levado para o mar, que longe chama,

o já morto rouxinol que Amor quisera.


Ai, saudades tantas da Menina e Moça!

Por que assim abandonaste o amado ninho

p´ra sonhares os enleios de arminho

e ousadias que nem Eros veja ou ouça?


São angústias idas, num sussurro instante,

as memórias que estas horas emolduram...

Soluçadas, as  saudades amarguram...

Foi perdido o rouxinol que as ame e cante.



José-Augusto de Carvalho

Lisboa, Junho de 2021.

09 - Livro CANTAREMOS * Sonho de Natal de uma menina

 



Neste noite de Natal e de magia,

coloquei na chaminé o sapatinho.

Já dormindo, vi Jesus e o que trazia:

a boneca que eu pedira, num carrinho.


Acordei sobressaltada e fui correndo...

E lá vi, na chaminé, o que sonhara:

a boneca no carrinho, agora lendo,

o pedido que ontem à noite eu lá deixara!


E chorei de gratidão, que bem me lembro!

Meu Jesus, a minha vida determina:

eterniza este Natal, este Dezembro,

e que eu fique, sem crescer, sempre menina!


José-Augusto de Carvalho

Lisboa, Dezembro de 2021.

09 - Livro CANTAREMOS * Paisagem

 



Inocente e descuidado, o ribeirinho

vai correndo na planura sossegada.

Ensonado, põe-se o sol, devagarinho;

vai dormir mais uma noite descansada.


As estrelas, já no céu a lucilar,

outras olham divertidas a correr...

Rouxinóis e serenatas de encantar

trazem sonhos só de amor a florescer.


Rompe agora a madrugada; e a cotovia,

já traquinas, vem o dia anunciar.

Só não pára o ribeirinho a correria,

p'ra chegar até à praia e ver o mar!...


José-Augusto de Carvalho

Lisboa, Dezembro de 2021

quarta-feira, 2 de junho de 2021

09 - Livro CANTAREMOS * Quero ser o passarinho...


CANTAREMOS
.
Quero ser o passarinho...




Quero ser, ai quero ser o passarinho

que tem asas, que tem asas de distância

e me leve, ai e me leve, do seu ninho,

nas alturas, ao meu sonho de criança.


Mais além, mais além, corre uma estrada

perfumada com raminhos de alecrim

e, nos ares, numa nuvem prateada,

uma fada acenando para mim...


...se aproxima e me diz: linda menina,

o que fazes tu aqui, neste caminho?

E eu respondo: venho ver se tu me ensinas

a tecer, ai mas sem penas, o meu ninho.




Lisboa, 1 de Junho de 2021
(Dia Mundial da Criança)


quinta-feira, 12 de março de 2015

09 - Livro CANTAREMOS * Minha Pátria Transtagana










Para Norte corre o Sado;

para Sul corre o Ana.

Sol a pino, incendiado!

Arde a Pátria Transtagana!



Minha Pátria Transtagana!

Ai, terras do Al-Ândaluz,

de versos de porcelana

e rimas de ponto-cruz!



São rimas de ponto-cruz

em versos de porcelana...

Ai, Terras do Al-Ândaluz!

Minha Pátria Transtagana!



Não quero luto nem choro

quando eu morrer, Pátria amada!

Quero que cantem em coro

«Rosa branca, desmaiada»!


*

José-Augusto de Carvalho
4 de Março de 2015.
Viana*Évora*Portugal

*

Nota: Esta cantiga é uma adaptação do poema "Pátria Transtagana", da colectânea com o mesmo título, editada em Outubro de 2014.

*

Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.

09 - Livro CANTAREMOS * A moda da madrugada






Venho dos longes da Vida,

com este passo seguro,

sempre de cabeça erguida

desafiando o Futuro.



Nas horas amarguradas,

que na vida conheci,

ganhei forças renovadas

para sempre estar aqui.



Para sempre estar aqui,

ganhei forças renovadas

nas horas amarguradas

que na vida conheci.



Enquanto a vida for vida,

hei-de ser a caminhada

que acende na noite escura

o raiar da madrugada.



*

José-Augusto de Carvalho
23 de Abril de 2006.
Viana*Évora*Portugal

*
Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.

09 - Livro CANTAREMOS * Balada de São Vicente







Do cimo de São Vicente

vejo o castelo de Beja,

quando um sol de estio ardente

ao inferno faz inveja.




Meus olhos mergulham fundo

na lonjura que me ganha.

Não há fronteiras no mundo!

Ninguém vive em terra estranha!




Ninguém vive em terra estranha!

Não há fronteiras no mundo!

Não lonjura que me ganha,

meus olhos mergulham fundo!




Nem pequenez, nem grandeza.

A dimensão verdadeira

que sopesa com firmeza

frágil mão duma ceifeira...




José-Augusto de Carvalho
8 de Março de 2006.
Viana*Évora*Portugal
*
Poema musicado por
Maria Luísa Serpa
2006, Viana

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

09 - Livro CANTAREMOS * Balada de Viana

Foto Internet, com a devida vénia.


 
De Viana trago o canto

dos encantos do Alentejo,

desde o pão sofrido e santo

às açordas de poejo…



Trago o sol que doura a vinha

no calor do mês de Agosto

e o sabor que se adivinha

quase vinho, ainda mosto…



Quase vinho, ainda mosto…

Que sabor que se adivinha,

ao calor do mês de Agosto,

quando o sol nos doura a vinha!



Nas ribeiras há pardelhas;

Nas barragens, achegãs.

Estas terras, de vermelhas,

sangram todas as manhãs!...





José-Augusto de Carvalho
13 de Março de 2006.
Viana * Évora * Portugal

Música de Maria Luísa Serpa
2006, Viana

terça-feira, 10 de setembro de 2013

09 - Livro CANTAREMOS * A barca esguia

Foto Internet,com a devida vénia


É agora o momento!...

Já mal lucilam os astros...

Segreda manso o vento

às velas ferradas e aos mastros...

Baloiça a barca esguia

num anseio azul de espanto!

Oh, Fado nosso, oh trémula ousadia

glauca que levanto

no pranto aflito das viúvas de vivos!

Barca esguia

de quantos sonhos cativos,

esta ousadia

de angústia e denodo,

irá ser, redonda, além, o mundo todo!




José-Augusto de Carvalho
 10 de Julho de 2009.
Viana*Évora*Portugal

Na música da ária «E lucevan le stelle...», da ópera Tosca, de Puccini.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

09 - Livro CANTAREMOS * Hino a Senhora de Aires

Hino a Senhora de Aires

Foto Internet, com a devida vénia



Senhora d'Aires, bendita
Senhora Mãe de Jesus,
que a minha oração aflita
encontre na Vossa luz
a salvação por que almeja,
agora e sempre. Assim seja!

Senhora dos campos ermos,
na Vossa Graça infinita,
velai os nossos enfermos,
valei à nossa desdita!

Senhora d'Aires, que a dor
dos deserdados da Vida
no Vosso manto de amor
encontre sempre guarida!

Senhora d'Aires, bendita
Senhora Mãe de Jesus,
que a minha oração aflita
encontre na Vossa luz
a salvação por que almeja,
agora e sempre. Assim seja!

No Vosso regaço, a luz
divina da salvação
nem ao martírio da cruz
recusou o Seu perdão!

Senhora na Dor Maior
de toda a Humanidade,
deixai que eu cante e que chore
Por tanto amor e piedade!

Senhora d'Aires, bendita
Senhora Mãe de Jesus,
que a minha oração aflita
encontre na Vossa luz
a salvação por que almeja,
agora e sempre. Assim seja!

***

Versos de José-Augusto de Carvalho
Viana, 6 e 7 de Maio de 2006.
Música de Maria Luisa Serpa

1ª. audição: Santuário de Nossa Senhora de Aires, na missa das 12 horas, em 24 de Setembro de 2006.

domingo, 8 de setembro de 2013

09 - Livro CANTAREMOS * Saudade de minha Mãe

Foto Internet, com a devida vénia


Saudade, Mãe, que saudade
do teu regaço-meu ninho!
Eu fui, na tua verdade,
vertigem doutro caminho...



De olor e cor, fui a flor
mais linda do teu jardim...
Nem o génio de um pintor
criou uma flor assim...



Só na fragrância
do  meu altar de saudade
a minha infância
vive na tua verdade…



Ousando a Vida,
hoje, sozinho, caminho,
sem a guarida
já perdida do meu ninho.






José-Augusto de Carvalho
25 de Junho de 2006.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal
Música de Maria Luísa Serpa

09 - Livro CANTAREMOS * Oh, minha terra!

Viata parcial de Viana do Alentejo
Foto Internet, com a devida vénia



Na minha terra,  já rareia o trigo.
Ermos os campos, dói a solidão.
Até o duro pão que, em sopas migo,
estranho, sabe à dor da emigração.

Oh, minha terra 
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão? 
Oh, terra
de sol e pão, 
quem nos desterra 
do pátrio chão?

Quando a saudade queima no meu peito,
os cravos secos gritam na memória!
Sinto, doendo, o sonho já desfeito.
Quem disse não ao rumo da História? 

Oh, minha terra 
de sol e pão,
quem nos desterra
do pátrio chão?

Oh, terra
de sol e pão, 
quem nos desterra
do pátrio chão?


   
José-Augusto de Carvalho
Julho de 2009.
Viana*Évora*Portugal

Na música da canção napolitana «O sole mio».

09 - Livro CANTAREMOS * É a hora!

Foto Internet, com a devida vénia


Todo o tempo que porfia
sempre um novo tempo gera,
num afã que se recria
de perene primavera.

Porque a inércia não existe,
estar vivo é movimento,
na viagem que persiste,
a favor e contra o vento.

Vamos todos, sem demora,
neste não de ser refém
duma Torre da Má Hora
donde nunca vem ninguém!

Vamos, sem demora,
no tempo que é de nós,
vamos, é a hora
de termos voz!



José-Augusto de Carvalho
5 de Julho de 2009. 
Viana*Évora*Portugal 

(Na música da canção napolitana «Torna a Surriento»)

09 - Livro CANTAREMOS * Horas de solidão

Torre de Menagem - Castelo de Viana do Alentejo
Foto Internet, com a devida vénia


Na torre batem as horas.
Nem viv'alma pelas ruas.
Amor, por que te demoras
e esta saudade acentuas?


No meu peito, dói a espera.
Um nó me aperta a garganta.
Não pode haver primavera
se o passarinho não canta.

Se o passarinho não canta,
não pode haver primavera.
Um nó me aperta a garganta.
No meu peito, dói a espera.

  
Nos campos não há trigais...
E sem trigo não há pão!
Meu amor, não tardes mais,
que morro de solidão!




Versos de José-Augusto de Carvalho
10 de Março de 2006.
Viana*Évora*Portugal
.
Música de Maria Luísa Serpa
Viana, 2006

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

09 - Livro CANTAREMOS * A minha história




Já estava no meu posto
quando o dia mal rompia…
E, o patrão, a contragosto,
ao sol-pôr, findava o dia…


Para além de água e de pão,
tive sede e tive fome,
que também se bebe e come
quer Justiça, quer Razão…

De Justiça e de Razão,
que também se bebe e come,
tive sede e tive fome
que não só de água e de pão…


Engelhado de cansaço,
hoje, sou esta memória…
Se na vida apenas passo,
que não passe a minha história…



José-Augusto de Carvalho
4 de Abril de 2006.
Viana*Évora*Portugal

Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.

09 - Livro CANTAREMOS * Cantilena




Nos versos desta cantiga
quisera a mesma emoção
que existe em qualquer espiga:
vida com sabor a pão.


Outono, terra lavrada!
Benditas primeiras águas!
Na sementeira adiada
só medram angústia e mágoas.

Só medram angústia e mágoas
na sementeira adiada...
Benditas primeiras águas!
Outono, terra lavrada!


Planuras desalentadas.
Perdido Maio maduro...
Nas terras abandonadas,
que presente, que futuro?


*
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 10 de Abril de 2013.
*
Talvez projecto, exactamente por ser uma pretensão lançada assim desamparada, é a tentativa de apresentar textos inéditos que poderão enriquecer (?) o património dos cantares populares do Alentejo. Que valha a intenção.