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domingo, 26 de agosto de 2018

O3 - LIVRO ESTA LIRA DE MIM * Pátria transtagana

CLAVE DE SUL 


Pátria Transtagana 






Parti quase indefinido, 

a buscar-me algum sentido... 



Não tinha rosa dos ventos 

para o rumo precisar… 

Ousei vagas e tormentos, 

perigos de naufragar… 



Do Algarve passei as passas 

mais as fomes transtaganas. 

À arenga das trapaças 

gritei: vai-te, não me enganas! 



Hoje, não presto, estou velho. 

Voltei p’ra morrer aqui, 

que só dobra o meu joelho 

esta terra onde nasci… 








José-Augusto de Carvalho 
Lisboa, 7 de Setembro de 1996. 
Alentejo, revisão em 25 de Agosto de 2018.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Ansiedade








De um manto de papoilas nasce o canto.

E sangram as palavras, sangra a voz.

Maduro canto que do chão levanto

p’ra vir cantar na voz de todos nós.



Um canto antigo de polifonia

que vem da mais recôndita raiz,

no canto matinal da cotovia,

dizer-nos o que mais ninguém nos diz.




No céu, ateia incêndios de futuro

a luz da antemanhã que se aproxima.

E eu, numa instante azáfama, procuro,

p’ra cada verso, a mais ardente rima.



Amado berço, minha vela ousada,

que te demora o sonho da largada!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 1 de Agosto de 2017.



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * A barca linda







Naquela noite, uivava a ventania.

Nas vagas alterosas, arrepios.

À capa, a barca nova resistia

aos trágicos apelos dos baixios.



Na antiga sedução da perdição,

chegava a melopeia das sereias.

A barca nova, toda coração,

sente vertigens a correr nas veias.



O povo, mal desperto, acorre ao cais

e olha o negrume frio dos baixios.

Só entre dentes grita “nunca mais!”

e sente até à alma os arrepios…



Na frustração de nós persiste ainda

o sonho que ficou da barca linda!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 24 de Novembro de 2016.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Os versos da canção





CLAVE DE SUL

OS VERSOS DA CANÇÃO


Não sinto no meu peito anseios de partida.

Não sinto nos meus pés renúncias ancoradas.

Não dei a volta ao mundo, apenas dei à Vida

as rotações que pude e quis que fossem dadas.



Dei o que pude e quis --- o mais foi extorsão.

Pequenos mundos tem o mundo e várias sendas

varridas pelo ardor dos versos da canção,

sustidas p’lo torpor de milenárias vendas.



No meu entardecer, indócil adivinho

o ser a acontecer nos versos da canção.

Não retrocede nunca o rio o seu caminho

no ciclo natural da sua condição.



Eu não verei cumprir o ciclo da evasão,

mas sempre hei-de cantar os versos da canção.




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 22 de Novembro de 2016.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Consternação





Do coração do montado,

venho até à beira-mar.

O mar, no seu marulhar,

geme uns acordes de fado.



Lavado o rosto nas águas,

tomo-lhe o sabor a sal.

É de lágrimas e mágoas,

saudades de Portugal.



Olho em redor --- só vazio.

Olho o longe --- nada enxergo.

Onde foi que me perdi?



Marinheiro sem navio,

padrão que nunca mais ergo,

o que faço ainda aqui?





José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 12 de Maio de 1993.

sábado, 7 de maio de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Os Tempos Velhos



Memórias

Os Tempos Velhos

O nosso muito amado Odiana


I

Uma mancha de arvoredo…

Treme o caminho de medo!



Um grito de raiva corta

o silêncio do montado.

Quem supunha a noite morta

neste sossego assombrado?



II

Numa janela da aldeia

tremeluz uma candeia…



Que sombra furtiva passa,

tragada pela escuridão?

Há um silêncio de ameaça

que perturba a solidão.




III

Andam malteses a monte

nas terras sem horizonte!

.

Soam secos estalidos…

navalhas de ponta e mola!

Há abafados ruídos

de passos que a lama atola…



IV

Cicatrizes purpurinas

de balas de carabina!



Homens de pele trigueira,

curtida pelo relento!

Aventuras de fronteira

e entregas sem juramento…



Nos beijos livres da noite,

sangram flores do laranjal!

Que amor na sombra se acoite,

na pureza natural…



V

O medo, o medo guardando

no arrojo do contrabando!



Malteses de olhos sombrios

assumindo a perdição

de ousios e desvarios

que lhes levedam o pão!



Uma sombra no arvoredo…

Treme o caminho de medo!



/

José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 5 de Setembro de 1996
Alentejo, revisto em 7 de Maio de 2016

segunda-feira, 18 de abril de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * O sonho lindo







Que lindo sonho foi de primavera!

Cantavam passarinhos nas ramagens.

Gritava a vida: estou à tua espera!

E tu perdido em transes e miragens!



Deixa essa fantasia e vem depressa,

que morro de saudade e de carinho!

Vem já! Que não atrases a promessa

de atapetar de flores o caminho!



Iremos, no rosado das auroras,

cantar em coro o “vamos lá saindo

por esses campo fora” desta vida!



Maduras, nos valados, as amoras

adoçam mais ainda o dia lindo

molhado de suor da nossa lida!




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 18 de Abril de 2016.

domingo, 3 de abril de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * A sesta






Na praça dos marginais,

a preguiça dorme a sesta,

indiferente aos sinais

do farol que ainda resta.



Farol que ninguém apaga,

que vem desde os tempos velhos,

quando foi aberta a chaga

que antecede os evangelhos.



Sob o Sol, nada de novo!

Sempre a farsa se renova!

E em cada cena, este Povo

presta provas e reprova…



Sempre assim: quem mal estuda,

mal aprende, pouco alcança!

Este fadário não muda

sem vontade de mudança.



Cravos houve e primavera!

Houve um sonho de encantar!

Quem não age por que espera

senão do sonho acordar?





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 3 de Abril de 2016.

domingo, 23 de agosto de 2015

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Meu Alentejo






No tempo da palavra, os versos são papoilas

que alindam mais ainda os lábios das moçoilas.



A força da palavra inteira que te canta

no tempo feminino, 

no tempo masculino

que vivo se levanta!



No tempo da palavra, o grito que desperta

o dia, à hora certa! 



José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 23 de Agosto de 2015.

sábado, 15 de agosto de 2015

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * O Cais



Para Maria Eugénio



Quando cheguei, o cais estava em festa.

O sol já deslumbrava ao meio-dia!

Nos campos calmos, uma paz honesta

que tudo envolve e mansa acaricia.



Esperavam por mim! Que terno abraço!

Que bom, na Vida, é sermos esperados!

Havia na corrente mais um laço!

Um laço entre outros laços apertados.



Cumpria-se a parábola dos vimes,

saber acumulado dos antigos...

Oh, Torre de Marfim, por mais que rimes,

rimar não sabes nuvens com castigos!...



Só este cais que tanto sofre e canta

cada manhã acorda e o sol levanta!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 15 de Agosto de 2015.




segunda-feira, 15 de junho de 2015

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Na amargura da espera




À memória de Casquinha e Caravela
assassinados no Escoural, 27/9/1979.




Quando a memória morre, a culpa é sempre nossa!

Quando o silêncio mata, a culpa é sempre nossa!

Ai, quantos mais terão ainda de cair

para que, neste chão, ao sol primaveril

que tudo em luz remoça,

irrompam a florir

rubros cravos de Abril?


*

José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 16 de Junho de 2015.

domingo, 14 de junho de 2015

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Interrogação





O Alentejo não tem sombra
senão a que vem do céu…





Os olhos semicerro à tremulina.

Que luz intensa! Cega a claridade!

Doída, a terra sonha-se e germina

a boa nova --- entranhas da verdade.



Atento, na vigília, o mundo antigo,

indaga até no vento que uiva rijo.

Que força tem um frágil grão de trigo

sonhando ser no seu esconderijo?



Amodorrado, o tempo das demoras

na pasmaceira espessa do abandono.

Nem o relógio marca já as horas.



Se há mantos de papoilas nos adis

sedentos dos teus lábios, por que o sono

te nega os êxtases primaveris?



*
Recuperando textos antigos
*
José-Augusto de Carvalho
13 de Junho de 2015.
Alentejo * Portugal




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Montemaior





Nós somos, por condição,

todos de Montemaior!

Aqui, dizemos que não

a quem renuncie ou chore.



Somos de Montemaior

e, com olhos de quem vê,

conhecemos o porquê

de quem nos negue ou ignore.



Conjugámos, clandestinos,

o verbo da identidade,

quando havia outros destinos

recusando a claridade.



Se não libertos dos amos,

em que liberdade estamos?





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 30 de Abril de 1998.
Recuperando textos antigos
Alentejo, 22 de Fevereiro de 2015.

domingo, 15 de setembro de 2013

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Oh, minha Terra amada!

Foto Internet, com a devida vénia.


Sofremos, e na dor do sofrimento,
gerámos esta força de ir avante.
Oh, minha terra amada, dá-me alento
p'ra que de cada queda me levante!

Regámos cada morto com o sal
das lágrimas choradas no desgosto.
Oh, minha terra amada, tanto sal
abriu em chaga as rugas do meu rosto!

Fizemos um poema de louvor
das modas p'lo trabalho consagradas.
Oh, minha terra amada, e tanto amor
por jornas de tão baixas desgraçadas.

Sentimos que chegara um tempo novo
naquele amanhecer de Abril em festa!...
Oh, minha terra amada, tanto povo
sofrendo agora o nada que nos resta!

Mas sempre nesta força de ir avante,
não esmorece o tempo nem o alento.
Oh, minha terra amada, que o teu Cante
não silencie o teu encantamento!


José-Augusto de Carvalho
5 de Janeiro de 2012.
Viana*Évora*Portugal