Tavira, década de 80 * Duze e José Augusto
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
27 - ÁLBUM DE RECORDAÇÕES * Fotos de Família
Minha avó materna Rosa de Jesus, natural de Alcácer do Sal
e sepultada em Viana do Alentejo,em jazigo de família. Foto 1950 (?).
e sepultada em Viana do Alentejo,em jazigo de família. Foto 1950 (?).
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
31 - NAS ÁGUAS DO NOSSO ODIANA * Minhas veias!
Só, nas margens do rio,
olho as águas e sinto-as correr.
Minhas veias de sal e de ousio,
quem vos pode deter
o navio?
Que desgraça
a tolher-me a coragem?
Tão distante da vida que passa,
já nem vejo a gaivota
em viagem
indicando-me a rota!
Minhas veias
a morrer neste cais!
Sem alor nem sinais,
só de nós falarão as areias
e o silêncio a carpir vendavais.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 25 de Janeiro de 2016.
sábado, 23 de janeiro de 2016
30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * Contigo, meu amor!
No refúgio do meu coração,
a minh’alma rendida em oração.
Um altar eu ergui no meu peito.
Um altar perfumado de incenso.
Eu e tu, num perfeito
ser-estar dos sidéreos espaços suspenso.
Não há tempo, não há duração.
Só o meu coração,
pelo pranto lavado,
tão de leve palpita
que parece parado
nesta entrega contrita.
Viverás para sempre na minha oração.
Morrerás quando eu for,
na carícia da minha outonal viração,
ter contigo, meu amor!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 8 de Janeiro de 2016.
03 - ESTA LIRA DE MIM!... * O sonho impossível
O sonho impossível
Havia nele um sonho por nascer.
Um sonho que sofria e lhe doía.
Um rasto só de estrelas a correr
que cada amanhecer lhe desfazia.
Só quando as noites eram de luar
ou quando as nuvens todo o céu cobriam
o sonho consentia se ausentar.
E nele astros e céu também dormiam.
Ausente o sonho, o sono lhe tardava.
Da sua insónia a dúvida suspensa.
Ah, que obsessivo sonho o assaltava?
Naquela derradeira noite, o frio
doía-lhe na alma, frio intenso!,
e adormeceu nos braços do vazio.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 11 de Janeiro de 2016.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
10 - CANTO REVELADO * Da vida e da morte
O pouco que me coube nas partilhas,
um quase nada, foi o desafio
de descobrir-me em nem sei quantas trillhas.
Em todas vi o verde da esperança
nos braços ternos do estival rocio
que sempre p’la tardinha ensaia a dança.
Em todas vi o medo do negrume
das horas invernais de desvario
descarregar borrascas e azedume.
Em todas vi caducas as folhagens
deixarem o arvoredo à chuva e ao frio
buscando o chão das trágicas romagens.
Em todas vi, viçosos, os perfis,
em remoçados hinos de elogio,
de enleios e paixões primaveris.
Mas em nenhuma vi a negação
de Abel morrendo às mãos do seu irmão.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 20 de Janeiro de 2016.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
06 - TUPHY VIVE! * Hoje, eu sou de Bagdad!
Rio Tigre em Bagdad
Parou o Tempo na Mesopotâmia.
Que frias são as águas do Eufrates!
Se quero Amor e Paz, por que me bates,
idólatra das aras da infâmia?
O fumo negro enluta o berço antigo.
Quem quer abrir as Portas do Inferno?
Areias áureas onde me prosterno,
que Céu me dás agora por abrigo?
As iras e os festins dos vendilhões
irrompem numa orgia de ódio e sangue...
Do cálice de fel às legiões,
tudo sofreu meu corpo, há tanto exangue...
Do trágico madeiro ainda erguido
ao tempo que não mais será cumprido!...
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 4 de Abril de 2003/ 12 de Agosto de 2004
In «Da humana condição», Março de 2008.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * O adeus
Sem desgosto, chegou o momento
da partida.
Sopra, trémulo, um vento
de carícia contida.
Sobre as águas, um véu de noivar,
transparente, suspira e desfaz-se
abraçado ao desejo que nasce
numa entrega de amar.
Um incêndio anuncia o sol pôr.
Logo, logo, virá o luar,
na pureza celeste, encantar
para sempre o milagre de nós e do amor.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Janeiro de 2016.
02 - TEMPO DE SORTILÉGIO - A menina
Nos olhos trazes arrebois de amanhecer.
E nos cabelos o perfume ainda intenso
do leito cálido do teu adormecer.
Escondes tímida o rubor dos teus anseios
sob o garrido lenço
que te disfarça, bem cruzado, até os seios.
Na dança bela dos teus passos me desvendas
o dulçor das romãs
que se baloiçam na memória de idas lendas.
E os olhos cerro na saudade do que tive,
raiares de manhãs
de um tempo morto mas que em mim pra sempre vive!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Janeiro de 2016.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
25 - LIVRO TEMPO DE SORTILÉGIO * A borboleta morta
O teu sorriso vem e minh’alma remoça.
Ai que outra primavera eu quero e em mim invento!
A tua boca vem e a minha boca adoça…
e eu quero a vida inteira só neste momento.
Quando te fores, vai, mas leva-me contigo
ou deixa-me morrer sem mágoa nem auxílio…
Que seja a tua boca o meu letal castigo,
nunca a saudade dela o fel do meu exílio.
Que a tua boca seja o meu último instante,
a última canção que escreva e que te cante
e o som da minha voz se evole no infinito.
Depois, ora depois, talvez algum poeta,
encontre numa flor a sedução inquieta
da borboleta morta aos pés de mais um mito.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Janeiro de 2016.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
30 - ...E CONTIGO EU MORRI NESSE DIA * A memória de nós
Tens razão, a saudade que mata
devagar
é o pranto a doer que desata
este nó que sufoca a garganta
e a chorar
canta.
Canta a cor do sol posto,
um incêndio inventando o rubor
do teu rosto
nos momentos de entrega e de amor.
Que momentos de ti para mim!
Que momentos de mim para ti!
Que princípio e que fim
nós quisemos e fomos aqui!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 1 de Janeiro de 2016.
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