quarta-feira, 30 de novembro de 2016

13 - NA PALAVRA É QUE VOU... - Assumpto!


Desde que me entendo responsavelmente como gente que compreendo que só quando nos damos é que a vida faz sentido. Quando nos damos à pessoa amada; quando nos damos ao possível projecto de vida; quando nos damos à(s) causa(s) que elegemos.

Nem sempre o darmo-nos corresponde às expectativas que criámos e ficamos decepcionados quando assim sucede.

Um desgosto de amor é um capítulo do «livro da vida» que escrevemos; outro amor que venha não substitui o que perdemos, outro amor é isso mesmo: é outro amor.

Um projecto de vida nem sempre está ao nosso alcance e dele fica a frustração a magoar-nos, mas vamos em frente, porque a vida não pára e porque a subsistência tem exigências inadiáveis.

A(s) causa(s) eleita(s) quase sempre nos exige(m) a integração em colectivo(s). E daí decorre a relação com o outro: às vezes gratificante e frutuosa; outras vezes difícil até ao limite da maleabilidade; outras vezes ainda difícil até à inevitável ruptura.

Temos notícia de histórias de vidas gratificantes; de histórias de vidas que cederam na maleabilidade até extremos quase insuportáveis; e de histórias de vidas que preferiram a ruptura quando os princípios ou os valores ou a dignidade determinaram dizer não.

Não vamos arriscar julgamentos de maleabilidade construtiva ou de rupturas. Recusemos a presunção de nos assumir como o outro. Ninguém pode ser o outro, assim penso, assim procuro agir.

Sofremos decepções em projectos de vida e em causas que elegemos. Umas mais dolorosas, outras menos. Há quem sustente que estas decepções são ensinamentos. É matéria complexa, por isso mesmo umas vezes será pacífico aceitar que sejam ensinamentos e outras vezes será preferível considerá-las de outros modos, assim no plural.

A nossa consciência é a nossa bússola. Se bem escolhemos o(s) caminho(s), ela nos gratificará; se mal o(s) escolhemos, ela nos punirá.

A nossa conduta, as nossas opções, as nossas decisões serão sempre nossas e sempre da nossa exclusiva responsabilidade.

Ninguém poderá viver por nós a nossa vida; não poderemos jamais viver a vida do outro.



José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 30 de Novembro de 2016.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

11 - O MEU RIMANCEIRO * A nova banda


(QUE VIVA O CORDEL!)






Não são meus estes caminhos

nem é meu este arvoredo

onde as aves fazem ninhos

e me cantam em segredo

hinos de amor e verdade

com asas de liberdade.




Estas terras não são minhas,

só são minhas as canseiras

de sol a sol nestas vinhas

onde colho nas videiras

promessas de olor e mosto

no calor do mês de Agosto.




Não são meus estes trigais

nem as papoilas sangrando.

São meus apenas meus ais

deste infortúnio em que eu ando

de um amanhã esperando

que virá mas não sei quando.




Só é meu este cansaço

que é noite quando adormeço.

Nem à força do meu braço,

sendo minha, faço o preço.

Este mundo é uma banda:

toca o que o regente manda!




Ouço falar de direitos,

de justeza ouço falar.

Serão caminhos estreitos

onde eu não posso passar,

porque o mundo é uma banda:

toca o que o regente manda.




Talvez de regente eu mude,

não me serve o que ele manda.

Só um tolo é que se ilude

rodando neste ciranda.

Se tanto eu já soube e pude,

vou criar a minha banda.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 25 de Novembro de 2016.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * A barca linda







Naquela noite, uivava a ventania.

Nas vagas alterosas, arrepios.

À capa, a barca nova resistia

aos trágicos apelos dos baixios.



Na antiga sedução da perdição,

chegava a melopeia das sereias.

A barca nova, toda coração,

sente vertigens a correr nas veias.



O povo, mal desperto, acorre ao cais

e olha o negrume frio dos baixios.

Só entre dentes grita “nunca mais!”

e sente até à alma os arrepios…



Na frustração de nós persiste ainda

o sonho que ficou da barca linda!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 24 de Novembro de 2016.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Os versos da canção





CLAVE DE SUL

OS VERSOS DA CANÇÃO


Não sinto no meu peito anseios de partida.

Não sinto nos meus pés renúncias ancoradas.

Não dei a volta ao mundo, apenas dei à Vida

as rotações que pude e quis que fossem dadas.



Dei o que pude e quis --- o mais foi extorsão.

Pequenos mundos tem o mundo e várias sendas

varridas pelo ardor dos versos da canção,

sustidas p’lo torpor de milenárias vendas.



No meu entardecer, indócil adivinho

o ser a acontecer nos versos da canção.

Não retrocede nunca o rio o seu caminho

no ciclo natural da sua condição.



Eu não verei cumprir o ciclo da evasão,

mas sempre hei-de cantar os versos da canção.




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 22 de Novembro de 2016.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

27 - ÁLBUM DE RECORDAÇÕES * JOSÉ AUGUSTO


ÉVORA, 1958 * O SERVIÇO MILITAR

1994, DESEMBARCANDO EM CASABLANCA
ANOS 60, COM MEU SOBRINHO ALBERTO AUGUSTO
E O MEU ESTIMADO FIEL
NO GDCF, 1990. COM O ADVOGADO E MEU INESQUECÍVEL 
AMIGO JAIME BANAZOL SANTOS, QUE TÃO CEDO NOS DEIXOU.
1990, GDCF, COM O COLEGA ARMANDO JORGE

27 - ÁLBUM DE RECORDAÇÕES * A MINHA DUZE


DUZE NA PRAIA DA ILHA DE TAVIRA, ANOS 60

O RISO FELIZ DA DUZE, NO GDCF, 1990

O OLHAR ATENTO DA DUZE

DUZE, AVÔ MANUEL PALMA, TIA E MADRINHA 
LUCÍLIA DAS DORES E TIO FILIPE SANTOS, 
TAVIRA, ANOS 60
1990, GDCF, DUZE RECEBENDO UM RAMO DE FLORES

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

27 - ÁLBUM DE RECORDAÇÕES * Na neve, Viana, 1954


Vista parcial de Viana do Alentejo, 4 de Fevereiro de 1954
Foto de João José Navarro y Rosa Soeiro, meu amigo de infância

*
Viana, 4 de Fevereiro de 1954. 
Do cimo de São Vicente, foto ao infinito, para Ocidente.
Foto de João José Navarro y Rosa Soeiro, meu amigo de infância.

*

Viana, Serra de São Vicente, 1954.
Em baixo, eu, à esquerda,, com neve nas mãos.


Eu, com 16 anos.

sábado, 12 de novembro de 2016

16 - NA ESTRADA DE DAMASCO * A minha mão...





Dizei-me, iluminados, onde fica

a terra decantada da utopia?

Eu quero ver a mão que modifica

o fel em mel, o choro em melodia.



Quisestes ensinar-me a boa nova

do lobo e do anho em paz pascendo juntos.

Aqui, onde a penar, do berço à cova,

de paz apenas gozam os defuntos.



Eu soube de Caim matando Abel!

Ainda quente o barro ao sol cozido…

O mel azedo transformado em fel

na mesa dos incautos é servido.



Soube também da pena de Talião…

…e mais e mais morrendo a utopia!

Que pode e que não pode a minha mão

para rasgar a treva e ver o dia?



Descubro, iluminados, que sou eu

quem vai além do barro à utopia!

Sou eu quem a si mesmo prometeu

e há-de cumprir o fim desta agonia.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 12 de Novembro de 2016.