sábado, 4 de julho de 2020

03 - LIVRO ESTA LIRA DE MIM!... * Voando

CLAVE DE MI(M)
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Voando



Na minha chaminé habitam passarinhos.
É alta a chaminé. Não faço mais lareira.
Não posso perturbar aqueles frágeis ninhos.
Nem fumo, nem calor. Só paz hospitaleira.

Bem cedo, p'la manhã, ecoam seus trinados.
Eu sinto-me no Céu ouvindo a sinfonia!
Os sonhos do meu sonho assim são tão alados
que voam num voar de encanto que extasia!

Neste milagre eu vejo a Natureza ainda
a dar-me esta ilusão de pura liberdade.
E mais parece estar dizendo que não finda
esta ânsia de encontrar-me e ser-me de verdade.

Eu só quero colher os astros do meu chão!
Amor, o nosso chão! O chão do nosso pão!


José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2002,



03 - LIVRO ESTA LIRA DE MIM!... * Vale ser!

CLAVE DE MI(M)

Vale ser!





Até ao derradeiro instante, vale ser. 

Papoilas a sangrar alagam os adis. 

Alturas de tontura e luz e ninguém diz 

que neste chão há astros por colher… 



Ai, que sabemos nós da maravilha 

que medra e que se perde neste chão? 

Por que dizemos nós sempre que não 

se o pão se cumpre apenas na partilha? 



Resiste a ceia antiga à sucessão 

das noites e dos dias incumpridos… 

São ritos e conflitos repetidos 

enquanto p’la partilha espera o pão… 



E a fome espera, espera e desespera… 

E o pão já nem reclama p´la partilha! 

Que tempo foi de apelo e maravilha 

se nunca floresceu p’la primavera? 




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 4 de Julho de 2020.