terça-feira, 7 de outubro de 2014
07 - CALEIDOSCÓPIO * Desafio
Recuso e no meu não florescem as manhãs.
Ao sol fraco e tardio,
abertas, as romãs
sangram num desafio.
No tempo que me coube,
quis ser também assim, fugaz, a viva essência.
Se não pude ou não soube,
que neste fim me reste o fel da penitência.
José-Augusto de Carvalho
Agosto de 2001./Setembro de 2010.
Viana*Évora*Portugal
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
07 - CALEIDOSCÓPIO * Da Vida
O tempo que nos limita
só é limitada senda
quando a vontade finita
não tem auréolas de lenda...
José-Augusto de Carvalho
Viana * Évora * Portugal
domingo, 5 de outubro de 2014
07 - CALEIDOSCÓPIO * Reflexão
E, um dia, mais saberei?
Ah, mas em meu derredor,
o saber é tanto, tanto,
dum saber maior,
que, siderado, me espanto
por só saber o que sei!
E, um dia, mais saberei?
No não-saber que me cabe,
(e saber mais tanto quis!)
eu recordo a velha história
do irmão que cala o que sabe
ao que não sabe o que diz...
Ah, esta minha memória!...
José-Augusto de Carvalho
4 de Setembro de 2001 - 2 de Outubro de 2010
Viana * Évora * Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Determinação
Sem manta por abrigo,
o céu sobre o meu dorso,
prossigo.
Sem medo nem esforço.
À chuva, ao frio, ao sol,
instante o movimento.
Se o chão é lamacento,
evito que me atole
buscando outro mais firme.
Comigo na bagagem,
pressinto diluir-me
no todo da paisagem.
E a singularidade
da minha condição
perde-se na voragem
duma pluralidade
onde as partes do todo
se esbatem nos devires do lodo...
Infinitude e caos - constante mutação.
José-Augusto de Carvalho
21 de Setembro de 2001 - 4 de Outubro de 2010
Viana * Évora * Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Fadário
Os tempos do desatino
embotam as mentes lerdas,
presumindo-lhes que as perdas
são azares do destino.
Por que será que o destino
só embota as mentes lerdas
e nunca provoca perdas
a quem gera o desatino?
José-Augusto de Carvalho
5 de Setembro de 2001.
Viana*Évora*Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Das orgias
A orgia dos medíocres continua!
Nos palcos da cidade, a farsa plena!
Atónito, de cena para cena,
o vulgo, num delírio, se extenua.
O conto do vigário, apelativo,
desperta, numa esdrúxula apetência,
instintos primitivos de indigência.
Será que Nero continua vivo?
José-Augusto de Carvalho
6 de Agosto de 2001 - 1 de Outubro de 2010.
Viana*Évora*Portugal
sábado, 4 de outubro de 2014
07 - Caleidoscópio * Êxtase
O verbo em sinfonia.
O rito. A cor. A dança.
Pureza em harmonia.
Os corpos nus e lassos.
Uma vertigem mansa,
bordada de cansaços,
a infinitude alcança
dos siderais espaços.
José-Augusto de Carvalho
14 de Setembro de 2001.
Viana*Évora*Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Exortação
Caminho, decidido, enquanto o tempo der,
na passada medida
de quem sabe, à partida,
que terá de chegar até onde puder.
Desafio a borrasca.
Inclemente me alaga a chuva que derrama.
E este frio que enregela, a doer! E esta lama
que, pastosa, me atasca!
Mas decidido vou, enquanto o tempo der,
até onde puder!
Setembro de 2001/Setembro de 2010
Viana*Évora*Portugal
na passada medida
de quem sabe, à partida,
que terá de chegar até onde puder.
Desafio a borrasca.
Inclemente me alaga a chuva que derrama.
E este frio que enregela, a doer! E esta lama
que, pastosa, me atasca!
Mas decidido vou, enquanto o tempo der,
até onde puder!
Setembro de 2001/Setembro de 2010
Viana*Évora*Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Mandamento
Ser decente é a base.
É a partir daqui,
desta básica frase,
que se escolhe a jornada.
Esta, livre escolhi.
Ainda que percalço ou dúvida te atrase,
à chegada,
esperarei por ti.
6 de Setembro de 2001.
Viana*Évora*Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Camões
Meu Poeta Maior, altura da vertigem!
Do tempo que passou ao tempo que se apresta
e que outro há-de gerar,
a nódoa ignara e vil, a mesma desde a origem,
insiste em te negar!
Esta gente não presta!
5 de Setembro de 2001.
Viana * Évora * Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * O cavalo de D. Fuas
O cavalo de Dom Fuas
só por milagre gravou
(diz a lenda) a ferradura
no penhasco onde estacou.
E é milagre que perdura!
No negrume de alcatrão
que atapeta as nossas ruas,
sem milagre, qualquer cão
grava as fofas patas nuas...
E assim vai a involução,
nas garras da negação...
5 de Setembro de 2001.
Viana*Évora*Portugal
Imagem Internet, com a devida vénia.
só por milagre gravou
(diz a lenda) a ferradura
no penhasco onde estacou.
E é milagre que perdura!
No negrume de alcatrão
que atapeta as nossas ruas,
sem milagre, qualquer cão
grava as fofas patas nuas...
E assim vai a involução,
nas garras da negação...
5 de Setembro de 2001.
Viana*Évora*Portugal
Imagem Internet, com a devida vénia.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
03 - ESTA LIRA DE MIM!... * Malmequer/Bem-me-quer
Como se fosse um frágil malmequer,
meu peito despetalo sem perdão.
Doendo, em sangue, digo: bem-me-quer…
E a pétala, ferida, cai no chão.
E prosseguindo, digo: mal-me-quer...
Que sinto e quero assim em provação?
Inalo este perfume que me fere
num rito fantasmático e pagão.
E despetalo todo o malmequer.
Um manto agonizante cobre o chão.
Não mais nem malmequer nem bem-me-quer.
A tarde cai. Na mansa viração,
que aveludado afago de mulher
enxuga o pranto do meu coração?
José-Augusto de Carvalho
2 de Outubro de 2014.
Viana * Évora * Portugal
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
07 - CALEIDOSCÓPIO * Destino
Quando a morte me levar,
duas vezes vou morrer:
uma p'la vida deixar;
outra, amor, por te perder.
Lisboa, 1962
07 - CALEIDOSCÓPIO * Verificação
E assim estamos... Estamos?
E assim vamos... Vamos?
E o baile mandado continua!
José-Augusto de Carvalho
7 de Abril de 2006.
Viana*Évora*Portugal
07 - CALEIDOSCÓPIO * Interrogação
Saudade, alma portuguesa,
quando foi que te criou
esta pátria de incerteza?
Quando o sonho naufragou
e o sal da tua tristeza
os sete mares salgou?
José-Augusto de Carvalho
3 de Novembro de 2006.
Viana*Évora*Portugal
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