domingo, 15 de março de 2015

02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Sonho






Sonho

e tudo se transforma.

Se disponho

as coisas como são,

vejo a vulgaridade da norma,

sem imaginação.



Sonho

e tudo se transforma.

Quando as coisas sem nexo disponho,

ganha forma

o novo que desponta,

vejo que tudo muda,

que tudo é novo e afronta.

E o Velho do Restelo

esquece o pesadelo

quando o ser se desnuda.



Sonho

o grito rubro das alvoradas

e vejo desfraldadas

bandeiras de medronho,

transparentes, de tule,

cantando em gargalhadas 

uma manhã azul.



Sonho e sei-me perplexo

porque o sem nexo tem

exactamente o nexo

que do caduco vem.





José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 2 de Dezembro de 1987.



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