domingo, 15 de março de 2015

03 - ESTA LIRA DE MIM!... * Depoimento




(Foz do Rio Sado * Foto Internet, com a devida vénia)





Bocage, aqui, na foz do nosso pátrio Sado,

eu tento, em minha lira, acordes de harmonia.

E canta em minha voz o solo calcinado,

dolente, exausto e nu ao sol da maresia.



Cortado foi o meu cordão umbilical

E, assim, eu despertei ferido para a Vida.

A roxa cicatriz, a chaga dum vitral

gritando a minha fé na cruz ainda erguida.



Em todo o tempo meu de primavera em flor,

em todo o meu verão só de trigais maduros,

comi o pão da Vida e o sal do meu labor 

numa epopeia instante e só de heróis obscuros.



Na longa caminhada, o pélago foi vário, 

mas nunca sucumbi, rumando para diante.

O Cabo Bojador do meu imaginário

rendeu-se à minha nau e ao sonho do Infante.



Errei aqui e ali. Fui tudo quanto pude!

Eu sei que Bem ou Mal em toda a parte medra.

Aquele que estiver em graça e em virtude

que atire sobre mim a vil primeira pedra…



Veloz correu o Tempo. Outono sou agora.

Memória do que fui, que mais serei ainda?

Resisto à Lei da Vida e quero ser a aurora

do dia por nascer e da manhã mais linda!



Meus sonhos sem idade! O Tempo é convenção.

Morrer –- mentira estulta e vã que só entende

quem nunca conheceu a força e a dimensão

perene de viver – e a Vida não se rende!



*

José-Augusto de Carvalho
25 de Outubro de 1991.
Tróia, município de Grândola

(I Encontro Sénior da Seguradora Fidelidade)

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