quinta-feira, 19 de março de 2015

24 - CULTURA DE AFECTOS * Sonetos da entrega



Sonetos da entrega

Lílian Maial * José-Augusto de Carvalho


*

Ainda vejo o teu olhar de arder mil mares,

o mesmo olhar que me queimou do teu amor.

Enquanto a música soava pelos ares,

era o teu beijo que esquentava o meu calor.

*

Ainda vês, amor, e sempre me verás

ardendo no luar das noites que são nossas.

A brisa, num rumor, insiste, ardente, e traz

o mesmo encanto de alma haurido em que te adoças

*

Ainda sinto a tua pele em minha face

e o teu sussurro a me dizer tudo o que eu quis.

Por mais que eu tente, não consigo algum disfarce,

só em teus braços eu consigo ser feliz

*

Macia, a tua pele é fogo que me aquece.

Aquece sem doer, num sacrifício de ara.

E tudo em derredor em êxtase acontece!

E o nosso entontecer deslumbra a gente ignara…

*

Se essa paixão que me consome não tem fim,

seria tola se não lesse nos teus olhos

o sobressalto que o teu peito me sorri.

*

O fogo a crepitar em chama nos consome.

Eu tenho-te num sonho idílico, em delírio,

e em nós é saciada a angústia desta fome!

*

Porém, mais tolo só tu mesmo, ai de mim,

tu que relutas em deixar-me um mar de abrolhos,

sem perceberes meu destino junto a ti

*

Meu sangue igual ao teu, alentejano ou sírio,

é sangue de Ismael! Quem há que o gele ou dome?

Que nos separa, amor? Que impõe este martírio?

*
*
(Parceria de sonetos publicada em 12 de Julho de 2002
num espaço sediado no Brasil.)

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