quinta-feira, 24 de outubro de 2013

19 - O LIVRO DAS MINHAS INQUIETAÇÕES * VI

Sexta inquietação



O meu querido Amigo José Augusto Carvalho, Professor Universitário em Vitória, Brasil, recordou-me, em oportuno comentário à minha quinta inquietação, a face negativa que regista a História sobre a imortalidade. Disse-me ele: Às vezes o tempo é cruel, permitindo que se imortalize o crápula em detrimento do homem honesto que criou belezas. Todos sabemos quem destruiu o templo de Diana em Éfeso, uma das sete maravilhas do mundo antigo: Eróstrato. Mas ninguém sabe quem o construiu... Todos sabem quem foi Nero, mas pouquíssimos sabem quem foi Constantino... A imortalidade é uma armadilha... Um abraço fraterno.

Este precioso alerta não poderia ficar confinado a uma página de correspondência particular. A todos os que não sabiam, a todos os que sabiam e já haviam esquecido, aqui fica, para nossa meditação.

Sempre nos ensinaram que da memória tudo deve constar: desde os fastos, para nossa admiração e respeito, às desgraças e misérias, para nosso aviso precavido. Inclusive, a dita sabedoria popular está presente, a todo o momento. Pois apesar de tantos alertas, o autismo grassa por aí . Há muita gente preocupada com o seu umbigo, nada ouvindo nem lendo do que os outros dizem e escrevem. É uma "enfermidade" que urge combater, com determinação. Cuida ela que tudo se resume ao eu, que além do eu apenas existe a paisagem circundante... Pobre dela! A grande verdade é que o Homem é um animal gregário, que só existe e permanece em grupo. E esta mesma verdade no-la recordou Manuel da Fonseca, no seu romance A seara de vento, colocando na boca da velha Amanda o grito/alerta que ela atirou aos ares da planície alentejana: Digam à minha neta que ela tinha razão: Um homem sozinho não vale nada.

Felizmente que nasci numa vila rural, pois, assim, pude aprender a conhecer o sabor do pão nos ombros vergados dos ceifeiros, a um sol de 40 graus; pude confirmar a existência sofrida dos que garantem tudo aos bem instalados na vida; pude compreender o amargor de quem moureja a troco de salários de desalento; pude aprender a revoltar-me com eles contra a hipocrisia dos tais direitos humanos, discutidos e aprovados pelos ainda senhores do mundo e dos destinos de quem trabalha.


José-Augusto de Carvalho
28 de Dezembro de 2006.
Viana * Évora * Portugal

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