quarta-feira, 16 de outubro de 2013

13 - NA PALAVRA É QUE VOU... * Só



Neste final de jornada, quando supunha nada mais caber no meu bornal, a surpresa vem. E já não valia a pena. Não porque a sobrecarga seja pesada; apenas porque já nada acrescenta. É aquela situação de quem é surpreendido por uma trovoada, num descampado: depois de chover uns minutos, os restantes, muitos ou poucos, já nada acrescentam à molha.

No monte, os dias trazem-me a monotonia de um tempo parado.


As notícias que me chegam, ainda que poucas, confirmam-me a monotonia.

O dia é o resultado do fatal movimento de rotação; o ano é o resultado do fatal movimento de translação. Assim sendo, nada de novo sob o sol. Mas os dias e os anos, para além do fatalismo planetário, dão-me coisas bonitas: os passarinhos chilreiam, felizes; as flores insistem em maravilhar-me com os seus aromas e as suas cores; «todo o sol do Alentejo» me encanta em apoteoses de cor. Pois, na contemplação, tudo bem.

Na acção, retenho do poema do grande Poeta Miguel Torga sobre Bartolomeu Dias, a fatal conclusão: um herói sem remate. Inevitável. É da sabedoria que não se pode pedir o que se não tem para dar.

Nestes dias quentes, fico-me, à sombra, olhando a estrada deserta. Uma andorinha ensaia acrobacias. Como lhe é fácil ser acrobata e como é difícil a tanta gente dar o passo certo no momento certo!

Só, deixo-me entontecer pela tremulina.

Até sempre!

José-Augusto de Carvalho

15 de Junho de 2013.
Alentejo * Portugal

Sem comentários:

Enviar um comentário

Procuro ser uma pessoa honesta. Não será bem-vindo a este espaço quem divergir desta minha postura.