quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

31 - NAS ÁGUAS DO NOSSO ODIANA * Encantamento




Antes de ti, as águas deste rio

cumpriam-se correndo sem parar.

Tinham por condição o desafio

de regressar aos caos --- o imenso mar. 



Cumpriam por cumprir o ciclo antigo,

vazias de emoção e sentimento,

como se a vida fosse, por castigo,

comer o pão sem sal e sem fermento.



Só quando tu chegaste a luz raiou.

E tudo em derredor ganhou sentido.

Até um passarinho desenhou

no céu azul as flor’s do teu vestido.



As águas, num murmúrio apaixonado,

beijavam as pedrinhas que rolavam 

num cálido bailar desordenado

em que, sem se ferir, se entrechocavam.



Os olhos do jumento que bebia

fixando a sua imagem com surpresa,

supunham encontrar a companhia

da sua condição e natureza.



Os patos que nadavam prazenteiros

mais pareciam ser de porcelana

no sonho de alma que a sondar roteiros

pintava de magia o nosso Odiana.



E eu era um marinheiro destemido

nas ondas dos teus olhos verde-mar,

a descobrir, indómito, o sentido

de me perder no porto por achar.




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2 de Fevereiro de 2017.



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