quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

13 - NA PALAVRA É QUE VOU... * Encruzilhada


Eu sei onde nasci, foi aqui, nestas planuras transtaganas, ao sol escaldante do meio-dia de um há muito passado dia do mês de Julho. 

Hoje, sozinho, não sei onde irei morrer. Talvez aqui onde nasci, talvez nalguma lonjura perdida em algum recanto deste mundo. 

O Padre António Vieira disse, e cito de cor, que os portugueses têm um pequeno país por berço e o mundo inteiro para morrerem. É uma grande verdade e não sei se eu irei demonstrar isso mesmo.

Pátria-cais de inquietação, quem irá saber onde cada um de nós irá rumar?

Pátria-desafio, quem irá saber o dia de amanhã?

Diz a sabedoria que a mais difícil procura é a interior, aquela angústia que nos leva à procura de nós mesmos.

Quiseram os fados que eu perdesse tudo quanto dava sentido à vida, à minha vida. 

Irão querer esses mesmos fados a minha renúncia? Por minha vontade, não.

Enquanto estamos vivos, há sempre um amanhã por haver. E porque assim é, eu quero ver esse amanhã. Traga o que trouxer, eu enfrentarei. 

A vida é um caminho, logo temos de caminhar enquanto tivermos um sopro de vida. Virá o dia que descansaremos na berma do caminho e adormeceremos a interminável noite que nos espera. Sem dramatismos. E resistiremos enquanto houver memória de nós naquelas e naqueles que nos amaram. Depois, será o absoluto silêncio.


José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2 de Fevereiro de 2017.

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