quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

25 - LIVRO TEMPO DE SORTILÉGIO * A espera






Ensombra o teu sorriso um rictus de tristeza.



O teu olhar vagueia além do tempo-agora.


E sempre, num vaivém de espera e de incerteza,

ausente nos esconde a angústia da demora.



Teu corpo exausto e nu, doído de mazelas,

num vago estremecer de fera encurralada,

desmaia, num palor de antigas aguarelas,

anseios e clarões de antiga madrugada.



Das tuas hirtas mãos, suspenso ainda o alor

dum êxtase de luz que a noite enegreceu.

Amor, onde estará, sortílego, o pintor

que quis transfigurar-te e desapareceu?



Sem tinta nem pincéis, sem tela nem talento,

meu vivo coração te dou por alimento.





Alentejo, 18 de Dezembro de 2006

.José-Augusto de Carvalho


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