sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

22 - O MEU CANCIONEIRO - 2 * A gula






A contas com seu repasto,

sem pudor nem temperança,

vai o frei enchendo a pança,

que de carne não é casto.



Atento à gula do frade,

diz-lhe el-rei: tende cuidado,

comer tanto é arriscado,

tanto mais na sua idade!



Ah, Senhor, este prazer,

confessa o frei seu pecado,

é nada se comparado

á dor de outro já não ter…



Ah, que prazer sobrevinha!

Que fome me consumia!

E quanto mais eu comia,

Mais era a fome que eu tinha!...



Divertido, olhando o frade,

El-rei, sorrindo, lhe diz:

Que o sabor dessa perdiz

Seja o da vossa saudade!...





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 21 de Dezembro de 2006.
.
(III - Canções de escárnio e maldizer)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Procuro ser uma pessoa honesta. Não será bem-vindo a este espaço quem divergir desta minha postura.