sexta-feira, 14 de agosto de 2020

16 - NA ESTRADA DE DAMASCO * Da efeméride


Na estrada de Damasco 
Da efeméride 



Ano após ano, a data se cumpria 

na translação soturna do deus Cronos. 

Trazia num alforge de abandonos 

a dor sem fim que só em mim doía. 



Há dores singulares, sem partilha 

possível nem conforto ou lenitivo. 

São dores que estrangulam o cativo 

num lento sufocar de gargantilha. 



No peito já desfeito, o cadafalso 

é o delírio obsceno da canalha… 

É nada se a pureza se enxovalha, 

é tudo quanto é reles, quanto é falso. 



Porque perdura a tentação do abismo, 

sempre a serpente ignóbil exorcismo? 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 12 de Agosto de 2020.

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