quinta-feira, 5 de outubro de 2017

13 - NA PALAVRA É QUE VOU..., * Definitivamente


NA PALAVRA É QUE VOU...


Definitivamente


Nesta transitoriedade em que vou, chegou o tempo de parar e ponderar:

o que fui e não fui;
o que sou e não sou neste efémero presente;
o que pretendo e não pretendo de mim;
o que os demais podem pretender e não pretender de mim. E que me afecta os demais nada pretenderem de mim? E que posição tomarei se os demais pretenderem e exactamente o quê de mim?

O Amanhã é futuro incerto e finito, porque toda a longevidade é relativa.

O balanço do passado é difícil: das entregas às hesitações; da satisfação do dever cumprido ao infortúnio efémero ou infortúnio duradouro; do encanto e do desencanto, tudo somado é um rosário de contas a desfiar pacientemente nas noites longas da invernia que se aproxima.

Sem dramatismo nem renúncia --- nunca digas nunca! ---, estou ou suponho estar preparado para o que vier. E não é jactância, é uma legítima convicção ou uma legítima defesa.

Na minha idade, é tolice sentir medo ou pretender engalanar mais ainda a feira das vaidades. Recordo o ditado: as modas e as vaidades são o delírio dos medíocres e dos tolos e o pesadelo dos sábios. Não que eu seja sábio, mas esforço-me por seguir os seus exemplos e preservar os seus ensinamentos.

Na minha idade, sorrio-me quando ouço a melopeia sedutora das sereias; sorrio-me também dos impenitentes que fazem a festa, lançam os foguetes e ainda têm fôlego para ir recolher as canas. São uns valentes!

Na minha idade, estou mais exigente. Já não tenho tempo para reparar asneiras ou para delas me penitenciar, para tolerar impreparações, para subscrever simulacros de boas intenções. Exactamente por isto mesmo, saber dizer não é uma qualidade.

Na minha idade, o tempo é de balanço, é de resultados, é o tempo de declarar Aqui está a colheita que recolhi, depois assinar e datar. O que suceder depois, de bom ou de mau, será da responsabilidade de quem decidiu.

Como todos os demais, espero sem sobressaltos o juízo da História. Até porque não nos cabe qualquer intromissão em causa própria, não nos cabe nem os outros permitiriam tamanho desaforo… e muito bem.

Nunca fui adepto da pena da Talião e apercebi-me há muito de que as “regras do jogo” estão viciadas. Em minha defesa apenas uso, e me basta, o rifão: “Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo.”

Até sempre! 

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 30 de Agosto de 2017.

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