Foi sempre o doce encantamento que sonhei,
enleio de miragem viva a palpitar.
E quando, num assombro, tímido me dei,
mais nada, além de mim, eu tinha para dar.
Dos longes interditos, vinha a melopeia
dos mágicos arroios, pela primavera,
ao sol do mês de Abril, que, enternecido, anseia
p´lo pão da nossa bem-aventurada espera.
Descia, devagar, uma alba rara e mansa.
Na mesa, o leite e o mel que fora prometido.
No ramo, baloiçava, em sublimada dança,
o fruto mal maduro, em graça permitido.
Ousei querer além de mim o que sonhei,
como se eu fora o outro ou o outro fora eu...
Não soube ler Camões --- errei, sofri, paguei.
O sonho que sonhei foi sempre apenas meu.
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, Outubro de 2020
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