terça-feira, 12 de novembro de 2013

13 - NA PALAVRA É QUE VOU... * Da memória vigilante...


Impenitente aprendiz, registo os sinais da memória vigilante: aqui, é um caminho sem pressa de chegar; ali, é um valado bem guardado de silvas, amodorradas ao sol, enquanto as suas amoras amadurecem a saborosa guloseima da passarada; além, é o monte silencioso, no abandono da terra; mais além, em todo o derredor, é o azul, numa campânula celeste de parada beleza.

Ah, querido Amigo, querida Amiga de outras paragens...



Se fores ao Alentejo,
não bebas em Castro Verde, 
que as fontes cheiram a rosas
e a água não mata a sede.


O silvo de um comboio corta o silêncio. Os carris rasgam a imensidão das herdades. São raras as povoações servidas neste percurso ferroviário do Barreiro à Funcheira. Muitas das estações ficam a uma distância de quilómetros. Algumas já foram desactivadas e, ao abandono, arruinam-se. O critério que determinou o rasgar desta Linha de Sul não teve seguramente a finalidade de servir as populações. Assim foi no século XIX, assim foi no século XX, assim continua neste século XXI.

Aqui, as minhas primeiras idas a Lisboa eram uma aventura: de churrião, cumpria os quatro quilómetros da vila até à estação, estação que foi desactivada, se a memória me não trai, na década de sessenta do século XX.


Para utilizar a linha férrea, terei de cumprir seis quilómetros de táxi até à estação ferroviária mais próxima, em Vila Nova da Baronia, situada no concelho de Alvito.

Antes da activação do tabuleiro ferroviário da Ponte 25 de Abril, a linha de Sul levava-me ao Barreiro. Lá chegado, era a aventura da travessia do rio Tejo. Agora, mais comodamente, embarco em Vila Nova da Baronia  e desembarco em Lisboa. 

Que maravilha de serviço público!

Há mais de ano e meio, devido a internamento hospitalar de minha mulher, em Évora, durante o mês de Março, utilizei, diariamente, o transporte colectivo rodoviário. Apenas de segunda a sexta-feira, por não haver esse transporte aos sábados, domingos e feriados.


Longe, o Poder Central não tem disponibilidade para olhar para esta situação; perto, o Poder Local, que me conste, também não se preocupa com a situação deste município estar privado da sua estação ferroviária. E os munícipes aqui
permanecem esperando...

Outra maravilha de serviço público!

Este é, entre muitos, um quadro do país real.

Até sempre!

José-Augusto de Carvalho
Viana*Évora*Portugal
Novembro de 2009.


Nota: Este texto é de Novembro de 2009. Em Novembro de 2013, a situação permanece

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