segunda-feira, 11 de novembro de 2013

04 - PÁTRIA TRANSTAGANA * Rimance na madrugada

Via Láctea
(Foto Internet, com a devida vénia)




Com a noite adormecia.

De madrugada, acordava,

sob este céu de magia,

que de estrelas pontilhava

a cósmica fantasia…



A estrada já conhecia

a sua certa passada.

E, diligente, lá ia, 

a estrada por companhia,

no frescor da madrugada.



Já alerta estava o gado.

Os seus passos conhecia.

Depois de limpo e tratado,

estaria preparado

para o trabalho do dia.



Ao cantar da cotovia,

começava a dura lida.

Quando mal rompia o dia,

a charrua já abria,

na terra, as rugas da vida.



E de sol a sol, doía,

por tão pouco, tal dureza.

Tantas horas num só dia!

Dia que apenas valia

uma jorna de tristeza!



Quanto podia a lembrança

das histórias dos antigos,

sempre houvera por herança

esta desgraçada andança

dum rosário dos castigos.



Triste história desta Vida!

Alcatruzes duma nora,

ora vindo de subida,

ora indo de descida,

gemendo como quem chora!



Ai, que fatal movimento,

insistente, rodopia?

Onde encontra tanto alento

p’ra manter o movimento

que sufoca cada dia?



Os dias passam em vão.

E sempre iguais no passar.

Nesta fatal rotação

vai girando a negação

de não sair do lugar.



Ai, tanta sede! Onde a fonte

em que se possa ir beber?

Perdido de monte em monte,

quem roubou o horizonte

da manhã a amanhecer?



José-Augusto de Carvalho
10 de Novembro de 2013.
Viana*Évora*Portugal

Sem comentários:

Enviar um comentário

Procuro ser uma pessoa honesta. Não será bem-vindo a este espaço quem divergir desta minha postura.