quarta-feira, 11 de julho de 2018

16 - NA ESTRADA DE DAMASCO * Quase uma oração


Quase uma oração 



Eu pago a água que é uma dádiva do Céu 

Eu pago a energia que é uma dádiva da água 

que é uma dádiva do vento 

Eu pago o pão que é uma dádiva da Terra 

que é um dádiva de quem trabalha a Terra 

Senhor que és omnipresente e não me vês… 

Senhor que és omnisciente e deixas-me perdido nos meus porquês… 

Senhor, eu sei que sou o barro que amassaste 

naquele dia antigo que perdura ainda nos escombros caóticos da memória 

Tu sabes que também do mesmo barro que amassaste 

eu fiz tijolos e ergui casas… 

E outros meus irmãos ergueram muros e cárceres que perduram… 

Senhor, o velho bezerro de ouro do Sinai 

é um velho sempre em novas transfigurações e perversões 

Senhor, a tua obra está datada 

e o tempo sempre noutros tempos reinventado degenerou 

Senhor, talvez tenha morrido o sonho que sonhaste 

Talvez, num outro tempo, 

no tempo de hoje, 

eu tenha de amassar um outro barro 

e inventar um sonho novo… 



José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 11 de Julho de 2018.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Procuro ser uma pessoa honesta. Não será bem-vindo a este espaço quem divergir desta minha postura.