FOGO NO BERÇO
Zéferro, 5/8/2003
Com minha homenagem aos amigos Cristina Pires e José-Augusto de Carvalho,
queridos representantes da brava e romântica gente lusitana!
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O Fogo que devasta a Lusitânia
Queimando sem piedade essa beleza,
nos traz à mente o crime da insânia
daqueles que arrasam a natureza.
O Homem criatura mais estranha,
destrói sem complacência sua defesa!
Oh Céus, que tendes todo o poder,
fazei a terra linda renascer!
*
Não há pranto dolente como o fado,
nem algo mais suave que’alma lusa!
História gloriosa no passado,
que seja de vitórias tão profusa
por todo o Universo espalhado
o lábaro que a nossa raça usa!
Herdeiros dessa cepa de beleza,
uni-vos pela terra portuguesa!
*
Oh lágrimas que correm sem cessar!
Oh preces que aos céus sobem plangentes,
levai alívio pronto além-mar
àqueles que encantam tantas gentes!
Parai, oh fogo insano, de queimar
a terra donde somos descendentes!
O nosso berço volte a embalar
os sonhos que aprendemos a amar!
*
J. F. Marques de Souza
***
Amargura
Barões, navegadores, vagamundos…
Artífices de fastos e de impérios…
De lendas e feitiços oriundos,
sujeitos de aventura e de mistérios
e náufragos dos mares mais profundos,
nos pélagos cavando cemitérios…
Por nós e contra nós nos entregámos
e nunca, em nosso alor, nos encontrámos!
*
Em autos de ira e fé ardemos tantos!
Por causas sempre alheias nos batemos.
Lavámos de desgostos e de prantos
mulheres, mães e filhos que perdemos.
Deixámos neste mundo os desencantos
que com a nossa carne em dor erguemos.
Ficou nesta amargura do que somos
o sonho que sonhámos e não fomos.
*
O fogo vem queimar agora o resto…
A cinzas reduzir o chão exausto.
O mesmo fogo ainda onde me cresto
ressurge dum passado de holocausto.
Do ser para o não-ser aqui me apresto,
bebendo fel e cinzas num só hausto.
Cansada, a terra-tumba que me acena…
Cansado… porque não valeu a pena!
*
José-Augusto de Carvalho
15 de Agosto de 2003.
Viana*Évora*Portugal
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