(Foz do Rio Sado * Foto Internet, com a devida vénia)
Bocage, aqui, na foz do nosso pátrio Sado,
eu tento, em minha lira, acordes de harmonia.
E canta em minha voz o solo calcinado,
dolente, exausto e nu ao sol da maresia.
Cortado foi o meu cordão umbilical
E, assim, eu despertei ferido para a Vida.
A roxa cicatriz, a chaga dum vitral
gritando a minha fé na cruz ainda erguida.
Em todo o tempo meu de primavera em flor,
em todo o meu verão só de trigais maduros,
comi o pão da Vida e o sal do meu labor
numa epopeia instante e só de heróis obscuros.
Na longa caminhada, o pélago foi vário,
mas nunca sucumbi, rumando para diante.
O Cabo Bojador do meu imaginário
rendeu-se à minha nau e ao sonho do Infante.
Errei aqui e ali. Fui tudo quanto pude!
Eu sei que Bem ou Mal em toda a parte medra.
Aquele que estiver em graça e em virtude
que atire sobre mim a vil primeira pedra…
Veloz correu o Tempo. Outono sou agora.
Memória do que fui, que mais serei ainda?
Resisto à Lei da Vida e quero ser a aurora
do dia por nascer e da manhã mais linda!
Meus sonhos sem idade! O Tempo é convenção.
Morrer –- mentira estulta e vã que só entende
quem nunca conheceu a força e a dimensão
perene de viver – e a Vida não se rende!
*
José-Augusto de Carvalho
25 de Outubro de 1991.
Tróia, município de Grândola
(I Encontro Sénior da Seguradora Fidelidade)
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