Lizete Abrahão * José-Augusto de Carvalho
Pois, menino, vem te chegando!
Nada melhor que este recanto…
São amigos um bom mate cevando,
Bebendo o doce prazer do canto.
Eu amo ver tanta gente amiga
Como um tecido forte colorido
transluzindo brilhos numa cantiga
que ora ouço neste grupo querido.
Te dizes assim inexperiente
De fazer versos e cantorias.
És um poeta, já se sente
Pela voz das tuas poesias.
Traze o canto de encantar sereias!
Vem sussurrar amor e carinho,
Sentir as musas nas tuas veias
Para delas iluminares o caminho.
Mereces bem mais, ó lindo vate
Que estas riscadas humildes linhas!
Sou gaúcha, nada jamais me abate!
Na coragem, fiz espadas e bainhas!
Menino fui de minha mãe, um dia…
Menino já não sou de mais ninguém!
O tempo, em mim, agora, é de invernia.
Meu tempo um outro tempo já não tem.
Se canto, o meu cantar já não encanta.
Morreram as manhãs primaveris.
Ficou em mim na voz que se levanta
Ainda um grito que já nada diz.
Sou débil nos saberes por carência.
Ninguém responde nunca aos meus porquês.
E sempre assim vivi nesta indigência…
Sem sim nem não, sobeja-me o talvez.
Nos braços das sereias tive fim,
Nos tempos em que soube merecer-me.
Um sonho de ilusão restou de mim,
Um fogo frio só a arrefecer-me.
Das terras de além-mar, por que me acenas
E tentas deslumbrar-me em utopia?
Agora é muito tarde, eu sou apenas
Saudade da fogueira – a cinza fria.
*
Ano de 2002
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