Tanto quanto sei, vem de muito longe o hábito de associar os versos também à ternura. Os versos abaixo foram escritos a pedido de um colega de profissão já então aposentado. Disse-me ter um pedido para me fazer e que eu não poderia recusar. Olhei-o surpreso e esperei: aí ele adiantou, tenho um netinha e muito lhe agradeço que escreva uns versos para ela. Não poderia recusar e escrevi-os. É uma memória linda que tenho deste avô que considerou uma grande prenda para a sua netinha uns versos escritos por mim. Aqui fica a partilha. Obrigado.
(Do baú do esquecimento)
Génese
Quando nasce uma criança,
o longe fica mais perto
e um caminho de esperança
rasga as dunas do deserto.
Um vagido acorda a Vida
do seu letargo profundo
e uma terra prometida
é do tamanho do mundo.
Quando uma criança chora,
seus olhos são duas fontes
e a sede que nos devora
naufraga em vales e montes.
Um sorriso terno e puro
é no tempo, é no espaço
a dívida de futuro
da força do nosso abraço.
Na criança que se gera,
há a promessa enlevada
de um sonho de primavera
ser a vida transformada.
Soprem ventos de mudança
e o Mundo seja um regaço
onde um sonho de criança
seja Tempo, seja Espaço.
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, Outubro de 1986.
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