domingo, 21 de junho de 2015
02 - TEMPO DE SORTILÉGIO * Na esteira de Holderlin
(Primeira versão)
1
Quando eu canto a beleza da ternura
dum maternal sorriso...
Quando eu canto o perfume da manhã
nas pétalas da flor...
Quando eu canto a suave melodia
do arroio cristalino...
Quando eu canto
o sol que se deslumbra nos meus olhos...
Quando eu canto a chorar
a prisão já perdida dos teus braços...
em mim superlativo a inocência.
2
Quando eu recuso
as trapaças melífluas dos cambistas...
Quando eu contesto
as negaças fatais dos vendilhões...
Quando eu empunho
a força da razão contra a razão da força...
Quando eu não cedo
às oferendas áureas da traição...
Quando eu prefiro
tombar à ignomínia de negar-me...
eu assumo o mais perigoso bem,
o do verbo dizendo-me quem sou.
3
Rasguei muitas estradas
e em todas procurei o rumo certo...
Aos ombros carreguei
os fados por aspérrimas ladeiras...
Olhando o céu,
só astros vi no longe inacessível...
Nos ecos que supus
chegavam-me os clamores doutros eus...
e ouvindo os outros
eu percebi que não estava só...
4
A verdade de nós
é que nem tudo passa nesta vida...
A verdade de nós
é que da morte irrompe sempre a vida...
A verdade de nós é a raiz
do alento novo em cada primavera...
A verdade de nós
é que na vida efémera que somos
o grito dos poetas permanece.
5
Na angústia do passar
o verbo reverdece todas as manhãs
no esplendor da Poesia.
*
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 21 de Junho de 2015.
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