sábado, 7 de maio de 2016

28 - LIVRO CLAVE DE SUL * Os Tempos Velhos



Memórias

Os Tempos Velhos

O nosso muito amado Odiana


I

Uma mancha de arvoredo…

Treme o caminho de medo!



Um grito de raiva corta

o silêncio do montado.

Quem supunha a noite morta

neste sossego assombrado?



II

Numa janela da aldeia

tremeluz uma candeia…



Que sombra furtiva passa,

tragada pela escuridão?

Há um silêncio de ameaça

que perturba a solidão.




III

Andam malteses a monte

nas terras sem horizonte!

.

Soam secos estalidos…

navalhas de ponta e mola!

Há abafados ruídos

de passos que a lama atola…



IV

Cicatrizes purpurinas

de balas de carabina!



Homens de pele trigueira,

curtida pelo relento!

Aventuras de fronteira

e entregas sem juramento…



Nos beijos livres da noite,

sangram flores do laranjal!

Que amor na sombra se acoite,

na pureza natural…



V

O medo, o medo guardando

no arrojo do contrabando!



Malteses de olhos sombrios

assumindo a perdição

de ousios e desvarios

que lhes levedam o pão!



Uma sombra no arvoredo…

Treme o caminho de medo!



/

José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 5 de Setembro de 1996
Alentejo, revisto em 7 de Maio de 2016

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