Antes de ti, as águas deste rio
cumpriam-se correndo sem parar.
Tinham por condição o desafio
de regressar aos caos --- o imenso mar.
Cumpriam por cumprir o ciclo antigo,
vazias de emoção e sentimento,
como se a vida fosse, por castigo,
comer o pão sem sal e sem fermento.
Só quando tu chegaste a luz raiou.
E tudo em derredor ganhou sentido.
Até um passarinho desenhou
no céu azul as flor’s do teu vestido.
As águas, num murmúrio apaixonado,
beijavam as pedrinhas que rolavam
num cálido bailar desordenado
em que, sem se ferir, se entrechocavam.
Os olhos do jumento que bebia
fixando a sua imagem com surpresa,
supunham encontrar a companhia
da sua condição e natureza.
Os patos que nadavam prazenteiros
mais pareciam ser de porcelana
no sonho de alma que a sondar roteiros
pintava de magia o nosso Odiana.
E eu era um marinheiro destemido
nas ondas dos teus olhos verde-mar,
a descobrir, indómito, o sentido
de me perder no porto por achar.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2 de Fevereiro de 2017.
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