A contas com seu repasto,
sem pudor nem temperança,
vai o frei enchendo a pança,
que de carne não é casto.
Atento à gula do frade,
diz-lhe el-rei: tende cuidado,
comer tanto é arriscado,
tanto mais na sua idade!
Ah, Senhor, este prazer,
confessa o frei seu pecado,
é nada se comparado
á dor de outro já não ter…
Ah, que prazer sobrevinha!
Que fome me consumia!
E quanto mais eu comia,
Mais era a fome que eu tinha!...
Divertido, olhando o frade,
El-rei, sorrindo, lhe diz:
Que o sabor dessa perdiz
Seja o da vossa saudade!...
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 21 de Dezembro de 2006.
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(III - Canções de escárnio e maldizer)
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