quarta-feira, 19 de abril de 2017

11 - O MEU RIMANCEIRO * Charlatanices



(QUE VIVA O CORDEL!)






De enxada em punho, porfia

esventrando o exausto chão.

Obsessivo, noite e dia,

busca o sonhado filão.



Nem um instante sossega.

Cava que cava o danado,

sem ver que a terra lhe nega

o filão tão almejado.



Ao vê-lo, pensando fico:

loucura é esta ambição

de ter poder, de ser rico

até à sofreguidão.



Grita que grita a quem passa,

num tamanho desatino,

que mais parece a desgraça

de alguém que perdeu o tino.



Todos fingem não ouvir

o seu constante alarido,

só ele, em seu persistir,

dá sentido ao sem sentido.



E por portas e travessas,

gritando desaustinado:

todos no mundo às avessas,

andam de passo trocado!



Porque só ele detém,

por desígnio de eleição,

supremo, o saber de quem 

é a bela sem senão…





José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 19 de Abril de 2017

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